Disputas paroquiais

Em meio ao embate presidencial no segundo turno, um tema tem agitado os grupos políticos no Interior: a votação de candidatos que representam forças tradicionais e as peculiaridades das eleições nos municípios

O resultado das urnas, no domingo passado, fechou a composição das casas legislativas, mas foi além: começou a desenhar o panorama das disputas municipais em 2020 em importantes cidades no Estado. Em locais estratégicos, grupos adversários se enfrentaram e o resultado foi comemorado ou lamentado, mesmo nos casos em que ambos os representantes acabaram eleitos para Assembleia ou Câmara dos Deputados.

Em Fortaleza, por exemplo, candidaturas vitoriosas neste pleito estão ligadas à administração municipal. O presidente da Câmara de Fortaleza, Salmito Filho (PDT), foi um dos candidatos mais bem votados na Capital, 54.018, para deputado estadual. Queiroz Filho (PDT), ex-chefe de gabinete da gestão, obteve 46.610 votos na Capital.

Os dois são cotados na sucessão municipal, em 2020. Também no "páreo" dessa disputa está o deputado federal eleito Capitão Wagner (PROS), que faz oposição ao grupo do prefeito. Ele foi o deputado federal mais votado no Ceará. Só em Fortaleza, ele recebeu 176.221 votos.

No Interior, o panorama é ainda mais específico. No Cariri, em Juazeiro do Norte, o prefeito Arnon Bezerra (PTB) saiu fortalecido com a vitória do candidato apoiado por ele e por Camilo Santana para a Assembleia Legislativa, Fernando Santana (PT), ex-secretário-adjunto do gabinete do governador. O petista obteve, só na terra do Padre Cícero, 11.202 votos e desbancou outro candidato a deputado estadual da Região, Nelinho (PSDB), que mesmo tendo o apoio de aliados da Prefeitura de Juazeiro, tirou 8.398 votos na cidade.

Centro-Sul

Já em Iguatu, o deputado estadual reeleito Agenor Neto (MDB) disputou voto a voto com seu adversário, que acabou sendo eleito também para o cargo, Marcos Sobreira (PDT), vice-prefeito do Município. Nessa "briga" histórica entre os grupos, Agenor Neto, que é ex-prefeito da cidade, saiu ganhando. O emedebista conquistou 19.878 votos, contra 17.683 de seu rival. Na eleição passada, Agenor também teve votação superior - 21.330 - se comparada a da deputada estadual Mirian Sobreira, mãe de Marcos Sobreira, com 12.831 votos recebidos.

A reeleição do deputado federal Leônidas Cristino (PDT), apoiado pelo prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), deu fôlego à gestão de seu aliado, principalmente, pelo fato de Leônidas ter tido maior desempenho que o seu adversário, deputado federal também reeleito, Moses Rodrigues (MDB), segundo colocado na eleição para Prefeitura de Sobral em 2016. O pedetista recebeu 29.543 votos, em Sobral, o emedebista obteve 21.169. No pleito passado, no entanto, Moses foi quem largou na frente na votação obtida em Sobral para deputado federal, com 30.020 sufrágios, mais que os 23.935 votos obtidos por Leônidas naquele ano.

A disputa de votos em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, também foi crucial para o cenário do município. A derrota da deputada federal Gorete Pereira (PR) e, no seu lugar, a eleição de Roberto Pessoa (PSDB), aliado ao prefeito de Maracanaú, Firmo Camurça (PSDB), importa muito para uma eventual continuação da atual gestão.

Em 2014, Gorete e Roberto eram aliados no PR, fazendo oposição ao governo estadual. O racha entre eles acabou prejudicando Gorete, que caiu de 16.882 votos em 2014, para 2.538, nas eleições deste ano. Roberto Pessoa, porém, levou 25.565 votos de lá neste ano.

Inhamuns

O embate entre candidatos em Tauá pode provocar novos arranjos na eleição municipal em 2020. O prefeito Carlos Windson (PR) enfrenta problemas políticos na Câmara. Ele é primo do deputado reeleito Audic Mota (PSB), que é adversário do grupo da deputada estadual eleita, Patrícia Aguiar (PSD), ex-prefeita da cidade. Patrícia obteve o maior número de votos, 14.056. Audic ficou com 7.552.

Em todos os casos, os votos recebidos nos municípios dá aos grupos a clareza sobre as estratégias a serem adotadas até o próximo ciclo eleitoral.