O convite do presidente Jair Bolsonaro a Renato Feder para ser ministro da Educação provocou reação negativa em vários núcleos do Governo. A maior pressão vem dos evangélicos, que ontem trabalharam para reverter a indicação.
O grupo defende alguém com perfil ideológico semelhante ao de Bolsonaro e rejeita Feder, secretário estadual de Educação do Paraná, por sua ligação anterior com o governador João Doria (PSDB-SP) e a proximidade com o grupo Lemann, que já discutiu parcerias com a secretaria do Paraná. Feder é judeu, assim como o secretário de comunicação do Governo, Fabio Wajngarten, e teria apoio também da comunidade israelita.
Na noite de quinta-feira, Bolsonaro ligou para Feder para conversar sobre a eventual ida dele para o Governo. À noite, quando o pastor Silas Malafaia soube que Feder podia ser o escolhido, mandou uma mensagem ao presidente, cobrando que ele nomeie para o MEC um gestor com "o mesmo viés que ele acredita".
Na manhã de ontem, quando o nome de Feder foi confirmado por integrantes do Planalto e divulgado pela imprensa, Bolsonaro escreveu a Malafaia que estavam escolhendo por ele, dizendo que a decisão ainda não havia sido tomada.
Uma parte do grupo militar com interface com os evangélicos tenta emplacar Anderson Correia, ex-presidente da Capes e atual reitor do ITA, para o cargo. Correia, que também é evangélico, é apoiado pelo grupo de militares que trabalharam desde a transição para Bolsonaro, tendo o ministro Augusto Heleno como principal fiador. Esse mesmo núcleo foi responsável pela indicação de Carlos Alberto Decotelli para o MEC, que acabou pedindo demissão antes de tomar posse por conta de contestações em seu currículo.
Malafaia afirmou que não conhece Anderson pessoalmente, mas elogiou seu currículo e disse que ele tem um perfil ideológico condizente com o Governo. "Se o presidente achar que tem que ser o Anderson, que tem perfil ideológico e que é de altíssima formação, se for ele, ótimo", afirmou Malafaia.
Advertência
Auxiliares da ala militar advertem o presidente de que a nomeação de Feder pode ser mais um erro, pelo histórico de empresário envolto em denúncias de sonegação e com imagem colada ao grupo de partidos chamados de Centrão. Segundo aliados, Feder, porém, tem apoio de ministros generais como Walter Braga Betto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
Diante desse contexto, há uma expectativa de que a nomeação, que deveria ter ocorrido ainda ontem, acabe ficando para segunda-feira.
Feder também não agradou outra base do governo de Bolsonaro, o núcleo ideológico, influenciado pelo escritor Olavo de Carvalho.
Desde que Abraham Weintraub deixou o Ministério da Educação, por desgastar o Governo com atitudes e declarações ofensivas a outros Poderes e países, a base ideológica cobra do presidente um ministro com perfil semelhante a Weintraub, também ligado ao "olavismo".
Nas redes, o núcleo tem feito campanha contra a nomeação de Feder. O grupo apoia a indicação de Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização do MEC; Sérgio Sant'Ana, ex-assessor de Weintraub; ou Ilona Becskeházy, atual secretária de Educação Básica do MEC.
Perfil
Um dos articuladores da indicação de Feder é o governador Ratinho Junior (PSD), partido de Gilberto Kassab. Recém-empossado, o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD), também é filiado ao PSD. Além do apoio de partidos da base aliada do presidente, também tem o apoio de parte do empresariado.
Sua proximidade com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), gerou, porém, resistências. Em 2016, Feder financiou a candidatura à prefeitura de Doria, doando R$ 120 mil à campanha.
Feder foi alvo de duas denúncias do Ministério Público sob acusação de sonegação fiscal de uma empresa da qual é sócio, a Multilaser, em um total de R$ 22 milhões. O secretário foi denunciado pelo MP do Rio de Janeiro e São Paulo, pois a Multilaser não teria recolhido os valores devidos de ICMS para os cofres públicos desses estados. A empresa negou a prática de sonegação.
Ideias
Convidado para ser o novo ministro da Educação, Renato Feder, 41, já defendeu a extinção da Pasta e a privatização de todo o ensino público, a começar pelas universidades.
A proposta, que incluía a concessão de vouchers para as famílias matricularem os filhos em escolas privadas, está no livro “Carregando o Elefante - como transformar o Brasil no país mais rico do mundo”, de 2007, um compilado de sugestões para a administração pública.
Quando assumiu a secretaria de Educação do Paraná, porém, ele afirmou que mudou de ideia sobre opiniões do livro, incluindo a de privatização do ensino.