O saldo ao fim do primeiro ano do ministro da Justiça, Sergio Moro, reúne derrotas, a perda do status de “superministro”, a revelação de indícios de conduta parcial como juiz da Lava Jato e de ignorar suspeitas de corrupção em torno de integrantes do Governo. Para os adversários, Moro migrou, em 2019, para o papel ‘que sempre exerceu’: o de político. Mas, apesar de tudo isso, a popularidade dele parece não ter sofrido abalos.
Para o presidente, a avaliação de Moro perante a sociedade o coloca como forte opção à sua sucessão em 2022.
“O Moro tem um potencial enorme. Ele é adorado no Brasil. Pessoal fala que ele deve encarar como presidente. Se o Moro vier, que seja feliz, não tem problema, vai estar em boas mãos o Brasil”, disse Bolsonaro, no fim do ano passado. Ele já citou Moro como um vice que tornaria a chapa de ambos “imbatível”.
O ex-juiz da Lava Jato acabou de ser eleito pelo jornal britânico Financial Times como uma das 50 personalidades mundiais que moldaram o último decênio. Ele é o único brasileiro nessa lista. E também é o ministro mais bem avaliado do governo, segundo o Datafolha – 53% dos que dizem conhecê-lo consideram seu trabalho bom ou ótimo, 17 pontos percentuais a mais do que o Governo recebeu.
Balanço da gestão
Logo no início da gestão, Moro teve ignoradas recomendações sobre a aplicação de uma das principais bandeiras de campanha de Bolsonaro, o afrouxamento das regras para o porte e a posse de armas no Brasil. Embora tenha saído do seu Ministério, o texto nunca foi bancado, de fato, por ele.
A sua bandeira pública anticorrupção também foi colocada à prova quando a existência de um esquema de candidaturas laranjas, patrocinado pelo então partido de Bolsonaro, o PSL, em Pernambuco e Minas Gerais – neste estado comandado à época pelo atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
Com a eclosão do escândalo e a manutenção de Álvaro Antônio no Ministério por Bolsonaro, Moro passou a adotar o discurso de que não faria o papel de ministro da Justiça de outros governos, que atuaram como advogados do presidente e de colegas.
Ainda na questão da corrupção, Moro conviveu em 2019 com as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro, que apontam a existência de um esquema de desvio de dinheiro, por meio de funcionários fantasmas e “rachadinhas”, no gabinete de Flávio Bolsonaro (sem partido), quando era deputado estadual – hoje ele é senador.
Além disso, Moro viu seu pacote anticrime, enviado ao Congresso Nacional, ser esvaziado em vários pontos. Entre eles, a prisão após condenação em segunda instância e a ampliação do excludente de ilicitude para policiais, o que abrandaria a possibilidade de punição a excessos da Polícia.
O pacote aprovado foi recentemente sancionado por Bolsonaro, que deu aval à medida incluída pelos congressistas que estabelece a figura do juiz das garantias, tirando do magistrado que preside a investigação a responsabilidade sobre a sentença. O papel de juiz de garantias era criticado por Moro. Apesar disso, o ministro afirmou entender a decisão do presidente.
Altos e baixos de Moro em 2019
Atritos: A divulgação de mensagens trocadas entre o então juiz da Lava Jato e procuradores da operação colocou em dúvida a imparcialidade de Moro como magistrado.
Fôlego: Popularidade de Moro segue estável; com 53% de aprovação, é o ministro mais bem avaliado do Governo Bolsonaro e tem números melhores que os do próprio presidente’