Tráfego das dunas

São as belezas que compõem a costa marítima cearense o seu grande atrativo turístico litorâneo. As dunas e falésias, por exemplo, fazem o grande diferencial das praias do Ceará em relação a outras, com menores singularidades. A existência desses espaços está condicionada a, entre outros motivos, redução da trafegabilidade irregular de veículos. Apenas entre Natal e Réveillon, foram mais de 200 autos de infração. O desrespeito às áreas de acesso exclusivo para pedestres coloca em risco a vida das pessoas, além de degradar o meio ambiente.

É inegável que a nossa geografia propicia a cultura “offroad”, ou fora das estradas, mas, como tudo na sociedade, é necessário não ultrapassar limites. Condutores com ou sem experiência para trafegar em dunas desobedecem áreas demarcadas com a proibição veicular. É como se a placa de proibição não existisse. São 275 pontos demarcados pelo Detran, vedando a passagem de veículos. Em outros lugares, a proibição se mantém, mesmo se não houver placa, como é o caso de áreas de proteção ambiental e de preservação permanente.

Para os adeptos da aventura sob rodas, é tentador o sobe e desce em meio a dunas e falésias, construções minerais que levaram milhões de anos para estar como as conhecemos hoje, mas que, literalmente, se desfazem em pó pela ação geomorfológica ou antropomórfica, quando causada pelo homem. 

As falésias de Canoa Quebrada, por exemplo, estão se desfazendo. Não são as mesmas de 30 anos atrás, impactadas por construções irregulares, pelo tráfego de veículos e transeuntes sobre elas, além dos fatores naturais, como a ação dos ventos e o avanço do mar. 

Não importa a justificativa que se use para andar sob essas áreas, é exatamente esta ação que está fazendo com que esses espaços desapareçam. Se não é possível evitar o fluxo totalmente, existe a regulação dos espaços de tráfego pelas autoridades competentes para tentar equilibrá-lo. É necessário obediência. Até a liberdade de andar em terrenos inóspitos para condução tem limite.

Os acidentes são comuns, e não tão raro com vítimas fatais. Em 2014, um instrutor de kitesurf morreu após ser atropelado por uma camioneta que fazia manobras perto da Duna do Pôr do Sol, em Jericoacoara. 

Em 2015, um buggy capotou e matou Daniela Albano, de 19 anos, em Beberibe; no ano seguinte, uma criança de oito anos também morreu em acidente de carro nas dunas, em Aquiraz. Em 2017, um casal sobreviveu após o quadriciclo que conduzia cair de uma falésia em Canoa Quebrada, Aracati. Os anos colecionam acidentes e mortes nesses espaços, mas ainda há quem critique as placas de proibição. 

A geografia cearense é aventurosa e rica em terrenos para saciar o apetite das turmas “offroad”, de modo que se tornam esvaziados de maior consistência os argumentos que criticam a regulação, sobretudo, pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

A lei deve valer para todos: condutores de primeira viagem ou mais experientes e capazes de evitar acidentes. O interesse coletivo se sobrepõe ao individual no tráfego pelo litoral. A obediência poderá promover a manutenção dessas paisagens turísticas, bem como garantia de passeios seguros.


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