Podem parecer estranhos, mas são mesmo estranhos os atuais tempos. Noutras épocas – para ser correto, em todos os anos do Século XX e nos primeiros 20 deste corrente Século XXI – o Carnaval foi o evento mais esperado e mais celebrado pela população brasileira, mudando apenas em alguns aspectos, segundo a cultura, a tradição e os costumes de cada Estado da Federação.
Se no Rio de Janeiro é o ritmo do samba que embala a alegria do folião, em Pernambuco é a alta velocidade do frevo que atiça e move o espírito brincalhão do nordestino, assim como na Bahia são os batuques da timbalada e do axé que reúnem multidões de afrodescentes, aos quais se juntam nacionais e estrangeiros de todas as partes. No Maranhão registra-se o encontro de todos os ritmos, do jamaicano reggae ao cacuriá autóctone, sem esquecer o carimbó paraense e o boi-bumbá que, no mês de fevereiro, troca o festival de Parintins pelo asfalto das avenidas de Manaus, hoje lamentavelmente infestadas pela Covid-19. Neste 2021, não há Carnaval.
Por isto, e por governamental decisão, os dias de hoje estão iguais aos de ontem: boa parte da população, principalmente a de idosos, permanece em casa. Tudo está a funcionar, menos os bancos, que só reabrirão ao meio-dia da quarta-feira, que seria de Cinzas em tempos normais. Há que preservar a vida humana, e esta, apoiada pela opinião da ciência, é a ordem de quem tem a responsabilidade mandatária de governar o Estado.
Com esse objetivo, foi limitado o expediente de funcionamento das atividades que geram aglomeração, como a dos restaurantes e bares, cujos proprietários seguem protestando contra a medida, alegando que as viagens de ônibus e de metrô aglomeram muito mais.
Pelo mesmo motivo, estão proibidas as festas carnavalescas, incluindo desfile de blocos, em todos os espaços – nas praias e nas praças públicas e, também, nos clubes, nos condomínios e nas residências unifamiliares, que são áreas de domínio privado. O crescimento do número de casos e de óbitos provocados pela Covid-19 sugere medidas de bom senso como as que riscaram o Carnaval do calendário de grandes eventos.
Há, sem dúvida, consequências danosas à economia, vitimando principalmente o turismo e o seu setor hoteleiro, cujo índice de ocupação não chega hoje aos 50%. Defrontamo-nos, desde março do ano passado, com uma pandemia que vem matando milhares de pessoas de todas as idades em todo o planeta e que se amplia por causa de suas novas cepas, contra as quais as vacinas em uso ainda não mostraram, comprovadamente, sua eficácia.
Há quase um ano, estamos todos a viver uma nova vida, a nos acostumar com novos hábitos, como o de trabalhar em casa, onde as crianças estão privadas do carinho dos avós, os quais, por isto mesmo, enfrentam a saudade que causa a depressão, porta aberta para algo mais grave. Neste momento, a população, em vez dos desfiles das escolas de samba pela tevê, gostaria mesmo de vacinar-se contra a Covid. Por enquanto, a imunização tem sido privilégio de poucos – entre eles os idosos acima de 75 anos – não só pelas limitações da indústria que a produz, mas também, no caso brasileiro, pela politização da pandemia, o que também é lamentável.