Quando a pandemia da Covid-19 for um passado solucionado, ou ao menos sob controle, o País precisa olhar para outros campos que nunca foram tão priorizados, mas são vitais, como é o caso da saúde mental. O aumento de pedidos ao INSS relacionados à depressão e à ansiedade, no Ceará, reafirma um problema já antigo e ainda mais afetado pelo novo coronavírus e tudo o que ele tem trazido de estresse, angústia, medo e letalidade. Teremos outro dever de casa para o qual não há vacina.
O ano de 2020 contabilizou 8.289 pedidos de auxílio ao INSS por transtorno misto ansioso e depressivo, um aumento de 27,8% em relação ao ano anterior. Não é de surpreender, afinal, que o primeiro ano da pandemia potencializaria outros transtornos observados no Código Internacional de Doenças (CID).
Além do risco de infecção e morte, a pandemia trouxe uma série de impactos na vida das pessoas e na economia. Ainda não há medida, mas o tempo dirá, por exemplo, o impacto que a nova realidade tem causado nas crianças e no aprendizado. Por hora, esse aumento dos pedidos de auxílio previdenciário são um breve reflexo do que enfrentamos.
A detecção precoce dos transtornos mentais é fundamental para o início do tratamento, antes que o problema se agrave, ao ponto de inviabilizar rotinas pessoais e profissionais.
Fortaleza conta com 15 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), dos quais seis são gerais — voltados a pacientes com sofrimentos psíquicos ou transtornos mentais severos e persistentes, sete voltados para Álcool e Drogas (AD), para usuários que enfrentam dependência a substâncias psicoativas, e dois infantis. Infelizmente, a demanda é maior do que a infraestrutura que se tem a oferecer. O resultado é um maior tempo de espera nas filas para atendimento.
Usuários do serviço enfrentam dificuldades para o acesso a consultas e medicamentos. Ainda assim, conforme a Prefeitura, todos são atendidos.
Em todas as esferas de atendimento, o tempo de espera pode gerar desmotivação. Se o paciente não persiste, pode prorrogar ainda mais o início de um tratamento para o transtorno de que esteja acometido. Mesmo com a depressão ainda reconhecida como o “mal do século”, o Brasil tem um caminho longo a percorrer até que a saúde mental seja uma prioridade também nas emergências hospitalares.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o segundo com maior número de depressivos nas américas, com 5,9% da população, além de ser o País com a maior prevalência de ansiedade no mundo, 9,3%.
Mesmo assim, o quadro de profissionais em especialidades de psicologia e psiquiatria, por exemplo, é muito baixo, quando não inexistente, se comparado a outras tradicionais emergências em saúde.
Os pedidos de auxílio em uma crescente sinalizam outros problemas que iremos enfrentar, e temos um longo caminho para alcançar o desejo universalizado nos versos do poeta Juvenal, na Roma Antiga: “deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são”. A saúde humana, entre corpo e mente, é o que garante força para viver, trabalhar, produzir e reproduzir. Logo, é decisiva para a sociedade e a economia, o que rege a vida.