Qualquer distanciamento social correto, numa fila em terminal de ônibus, se desfaz por dentro do veículo. Isso acontece não pela proximidade das poltronas, mas pelo excesso de passageiros ou, para melhor dizer, pela falta de veículos para atender à demanda numa pandemia, o que revela uma aglomeração que sempre foi tolerada, mas não poderia ser nestes tempos. É o que Fortaleza tem vivido nos terminais de ônibus.
O acréscimo de 200 veículos nos horários de maior movimentação não conseguiu aplacar a lotação por um motivo simples: a oferta sempre esteve muito aquém da demanda. Vídeos com flagrantes de aglomerações nos terminais revelam que a máscara é o único item sanitário que tem sobrevivido no vai e vem de passageiros, mas não por culpa deles. Muitas pessoas usam dois ou mais ônibus por dia para trabalhar. Até os eventos sociais e culturais foram reduzidos drasticamente - quando não totalmente evitados em presença, o que apenas reforça que o passageiro está ali por necessidade funcional.
De acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), foram adicionados 120 veículos em 104 linhas, o que dá a média de um ônibus a mais por itinerário. Além disso, outros 80 veículos foram disponibilizados para os horários de pico. Não é suficiente para evitar a lotação e, sobretudo, para garantir o distanciamento.
Os depoimentos de usuários têm confirmado isso. Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que, se a pandemia pegou a todos de surpresa, um ano atrás, um problema histórico como a lotação de ônibus não seria resolvido no mesmo intervalo de tempo, apesar de todas as melhorias e evoluções em mobilidade urbana realizadas em Fortaleza pelas duas gestões do ex-prefeito Roberto Cláudio, que obteve reconhecimento internacional.
Assim como os problemas históricos existentes em educação (dificuldade de tecnologia e conhecimento para acesso remoto) e saúde (municípios com infraestrutura hospitalar mínima), por exemplo, a crise causada pelo coronavírus criou um alerta por ainda mais pressa no que tange à mobilidade urbana no Brasil. E até que se resolva, veremos filas enormes nos terminais de metrô, trem ou ônibus. O transporte coletivo ainda é a melhor saída de médio e longo prazo, apesar do coronavírus. No entanto, cada território precisa reconhecer os gargalos evidentes na crise como um preparativo para as próximas.
A falta de distanciamento social nos terminais rodoviários é apenas uma ponta do problema no excesso de demanda por passagens de ônibus na Região Metropolitana de Fortaleza. A responsabilidade da aglomeração não pode recair sobre o usuário, especialmente aquele que está seguindo para trabalhar e ser economicamente ativo.
As empresas e a Prefeitura Municipal precisam se manter atentas ao controle da estratégia de mobilidade para essa período pandêmico: estudo de novas rotas, com base na demanda do usuário por região; rotina de higienização sanitária dos equipamentos (com fiscalização municipal) e a garantia de ônibus para que quem dele necessita não perca o direito a um distanciamento seguro, justamente em um período no qual a ausência de contato é tão fundamental. Será um avanço em saúde e mobilidade.