Confraternização e tristeza

Hoje é a véspera do Natal, data em que, pela tradição, se celebra o nascimento de Jesus Cristo, evento que dividiu a história do mundo em AC e DC.

A mensagem de Cristo — “amai-vos uns aos outros como eu vos amo” — tem sido, ao longo dos últimos 21 séculos, um motivo para a confraternização dos povos, principalmente os do Ocidente.

Infelizmente, porém, de uns tempos para cá, o pecado original da vaidade, da soberba, da posse, da conquista e da dominação vem, a passos rápidos e largos, dividindo a humanidade, afastando-a do amor fraterno, desviando-a das naturais divergências de ideias e opiniões e conduzindo-a para o perigoso terreno dos conflitos pessoais e grupais. 

Isto varia de um país para o outro, mas existe velada ou claramente, dependendo do grau de liberdade de expressão cada Estado soberano.

Nos tempos de hoje, é difícil viver, mais ainda quando açoita o planeta uma pandemia virótica, cujas trágicas e tristes estatísticas crescem na mesma medida em que surge e se propaga, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, uma nova variante da Covid-19, exigindo dos governos providências mais severas de restrição ao livre trânsito das pessoas. 

No Reino Unido, estão proibidos o funcionamento de restaurantes e, ainda, a realização de festas públicas natalinas e de Réveillon. Em Portugal, na Itália, na França e na Espanha, as mesmas medidas foram adotadas.

No Brasil, no dia que antecede o Natal, fala-se muito pouco sobre confraternização e exageradamente acerca da disputa política em que se transformaram, lamentavelmente, a pandemia e os planos dos governos Federal e estaduais de vacinação da população. 

Como é impossível impedir o ir e vir das pessoas ou a reunião nos respectivos núcleos familiares, pois todos querem celebrar o Natal ao lado dos pais, irmãos, parentes e amigos, o poder público vê-se envolvido em um emaranhado de díspares opiniões e pareceres, retardando diligências que já deveriam estar sendo executadas.

Tudo isto acontece porque o homem, dominado pelo seu infinito orgulho, desprezou — aqui e em todas as nações — o amor ao próximo para tornar-se ególatra, e a egolatria tem graves efeitos colaterais, como agora se pode observar, nas diferentes geografias, pelas dificuldades da simples e consuetudinária celebração do Natal.

Houve um tempo, e não faz muito, em que o Natal era a mais esperada festa do ano. Os templos católicos lotavam-se de gente na chamada “Missa do Galo”; as crianças dormiam mais cedo porque queriam encontrar — e encontravam ao acordar — o presente do Papai Noel, ficção que rapidamente desapareceu por causa dos novos costumes e das novas famílias. O mundo mudou, e essa mudança levou para longe o sentido cristão e confraternizador do Natal.

O que, neste 24 de dezembro, deveria ser o encontro de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos com as cores multicoloridas das luzes natalinas tornou-se, também por causa da pandemia, um momento de preocupação com a saúde dos doentes e de medo de aglomeração, mesmo no recesso dos lares.

Este Natal de 2020 é, certamente, para muitas famílias que perderam para a Covid-19 seus queridos parentes e amigos, o mais triste de todos os natais.