Com 90% de sua área territorial inseridos no semiárido, com um solo quase todo cristalino e com poucas manchas agricultáveis, o Estado do Ceará é completamente dependente das águas da chuva. Confirmando os prognósticos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) anunciados no dia 20 de janeiro passado, a natureza tem sido avara: a pluviometria na região do Cariri, no Sul do Estado, está neste momento, como previu a ciência, 43,2% abaixo da média histórica.
São as águas das chuvas que caem sobre os municípios do Cariri que fazem correr o Rio Salgado, talvez o mais importante afluente do Jaguaribe: é ele que, nas épocas de cheia, ajuda a recarregar o açude Castanhão, o maior reservatório de água doce cearense, com capacidade para acumular 6,5 bilhões de m³. Nas demais regiões do Ceará, o quadro é o mesmo, com poucas variações para mais ou para menos.
Nas manchas agricultáveis, como as da Chapada do Apodi, na divisa do Estado com o Rio Grande do Norte, há boa reserva hídrica subterrânea que garante a água para a irrigação nos tempos de estio. Na Chapada da Ibiapaba, do lado oposto, na divisa com o Piauí, onde as condições para hortifruticultura também são boas, o suprimento de água para a população de suas cidades e para as atividades econômicas é garantido pelo Açude Jaburu, que, porém, pela falta de chuva, está em nível muito baixo.
Sem chuva, o Jaburu não se recarrega. Pequenos produtores (a Ibiapaba é uma região de minifúndios) agrícolas olham para o céu, do qual se esperava já estar com nuvens de chuva, e se entristecem, desesperançados com o porvir dos próximos meses.
No Cariri, onde o solo é rico para quase todas as culturas, cresce, igualmente, a ansiedade.
Até o início do segundo semestre do ano passado, havia a esperança de que as águas do Rio São Francisco, que na época estavam a chegar ao Ceará, recarregariam o Castanhão. Houve, todavia, um acidente na barragem de Jati, e o sonho teve de ser adiado para que se consertasse, como consertados foram, os equipamentos danificados.
Mas, inopinadamente, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) decidiu não mais fornecer água do São Francisco ao Cinturão das Águas do Ceará (CAC), cujos canais foram testados com êxito, através dos quais chegariam ao Rio Salgado e, de lá, ao Castanhão. Essas águas – todas – estão sendo desviadas para a Paraíba.
Havia um impasse, de ordem política, que impedia a solução do problema – e é mesmo de um problema que estamos tratando. O problema foi superado: o Ministério do Desenvolvimento Regional e os governadores dos quatro estados beneficiados (CE, RN, PB e PE), mediados pela Advocacia-Geral da União (AGU), acertaram os termos de um pré-acordo sobre a repartição dos custos de operação e manutenção (O&M) do Canal Norte do Projeto São Francisco.
Simultaneamente, o ministro Rogério Marinho anunciou que, em março, o MDR voltará a fornecer a água do S. Francisco ao Ceará. A questão era política e exigia uma solução igualmente política, que parece ter sido encontrada.
Infelizmente, as previsões da Funceme para a quadra chuvosa estão sendo confirmadas. Teremos, pois, um ano difícil do ponto de vista hídrico.