Ser criança no Brasil

A infância é uma etapa primorosa da vida humana, nela se desenvolve habilidade de sentir, aprender e explorar o mundo. Mas infelizmente nem todas as crianças no Brasil contam com as condições ideais para um bom desempenho de suas capacidades.

Algumas convivem com situação de risco, violência, negligência, abuso sexual, trabalho infantil. O caso do menino Miguel de Recife, o desaparecimento das três crianças Lucas, Alexandre e Fernando de Belford Roxo, a morte do menino Henry, só para citar alguns casos noticiados, são ilustrativos.

O racismo é um dos fatores que compromete o desenvolvimento saudável das crianças. Merece destaque no debate público nacional, não é mais possível naturalizar e negar seus efeitos. Acreditem, ninguém nasce racista. O racismo é fruto de construções sócio históricas que marginaliza grupos étnico como indígenas, negros/as e povos e comunidades tradicionais, estando presente na família, escola, comunidade.

A discriminação racial é danosa, deixa marcas negativas na construção da identidade racial das crianças, abala a forma como estas se percebem. Podem negar sua estética e sentir-se inferiorizadas, ansiosas, depressivas, medrosas e com sentimento de inadequação.

Nesse sentido, tem-se as meninas negras que correm mais risco de serem estupradas, sistematicamente exercem o trabalho doméstico infantil, tendo de cuidar e fazer companhia a outras crianças menores. Tais fatos provocam descontinuidade na trajetória escolar, ao não serem matriculadas ou engrossarem a fileira da evasão escolar.

Esse quadro tende a piorar com a pandemia de Covid-19, que não atinge a todos da mesma forma, faz distinção de raça, classe e gênero. Agravaram-se as desigualdades, o racismo ficou escancarado e junto com a crise sanitária e dos sistemas de proteção social impactaram mais ainda a vida das crianças.

Pois aumentaram os casos de violência contra elas, porém subnotificadas e sem acesso a serviços e a medida de proteção; ampliou a exposição a riscos de insegurança alimentar, de abandono com a morte dos pais. O isolamento social as privou do contato com outras crianças, com a comunidade e de ir à escola. Com as aulas no formato remoto e sem acesso digital, parte delas não alcançam bons resultados na escola.

Para a superação do racismo na infância vale criar oportunidades em condições de liberdade e igualdade; implementar políticas públicas universais e especificas de igualdade racial; inserir no imaginário infantil referências identitárias raciais positivas; construir espaços de sociabilidade afirmativo dos modos de ser dos grupos raciais em desvantagens e mobilizar forças sociais para assegurar uma educação antirracista como propõe as leis nº 10.639/2003, a Lei nº 11.645/2008 e as diretrizes para educação quilombolas e indígena.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.