Padim Ciço no Dezembro Vermelho e a fake news de Fernando Collor

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(Atualizado às 12:44)

— Como assim, a estátua do meu Padim toda encarnada? — perguntou um passageiro ao meu lado.

O avião da Latam sobrevoa as encostas da serra do Horto, brilham as luzes e pirilampos de Juazeiro na madrugada, a chegada à Meca do Cariri é sempre emocionante — para quem é de lá, para quem vai pela primeira vez. Não é e nunca será um lugar qualquer, há muitos mistérios entre o céu e a terra, ali mais ainda.

Alguém, sentado lá na asa da aeronave, explica: Padre Cícero está iluminado com esta cor em homenagem à Campanha Nacional de Prevenção ao HIV/Aids e outras ISTs, o Dezembro Vermelho.

Desde que vi Meu Padim encarnado só lembrei uma “fake news” clássica. “Fake news” braba, das antigas, lorota-raiz. Ri sozinho, como pode uma mentira daquelas ter feito tanto sucesso. No ano de 1989, na primeira eleição depois da Ditadura, o comitê de Fernando Collor espalhou no Cariri que Lula pintaria de vermelho a estátua do Padre Cícero caso ganhasse a disputa presidencial. Seria a chegada do comunismo na região.

De Juazeiro ao Cariri oriental de Santana e Nova Olinda, tudo seria inevitavelmente avermelhado. A propaganda deu certo, tirou um bocado de voto do petista. Lembro do pânico do meu avô João Patriolino, lá no Sítio das Cobras, com medo do comunismo. Sacou as patacas da caderneta de poupança e tudo. Mal sabia que seria o seu candidato Collor que confiscaria a grana dos brasileiros e brasileiras, provocando uma desgraceira sem fim em todo o país.

O avião passa raspando a colina do Horto. E aquele meu Padim pintado de vermelho me faz lembrar de tudo isso.

No dia seguinte, ao flanar pela cidade, a mesma sensação descrita outro dia pelo grande cronista Wilton Bezerra: “Deixei a terra do Padim Cícero em 1979. Num curto espaço de tempo, o lugar cresceu e mudou. Em Juazeiro, dobra-se uma esquina e se sai em outro tempo.”

Deixei a rua Santa Luzia, caríssimo Wilton, na mesma época, rumo ao Recife. Era seu vizinho, fã e ouvinte do seu comentário desde o microfone da Rádio Progresso. A cidade mudou demais e deveras, mas o doce de Madailton segue o mesmo. Só falta o Icasa, o time daquele poster na parede na nossa memória, voltar a ser grande. Tomara. Feliz Natal. Até a próxima.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.