Há sempre um receio de tratar sobre o crime de xenofobia. Muita gente acha que ao reproduzir falas preconceituosas, ajudamos, mesmo sem intenção alguma, a propagar essas ideias tronchas. Prefiro escrever sim, nunca silenciar a respeito. A infâmia da vez, como vocês sabem, partiu de Romeu Zema, governador de Minas Gerais, do Partido Novo.
Não foi ressentimento ou ódio banal arrotado por um anônimo nas redes sociais. Saiu da boca de uma autoridade que se diz séria. Um político que pretende ser candidato à Presidência da República. Um brasileiro que, inevitavelmente, terá que pedir o voto de nordestinos e nordestinas para alcançar seu objetivo.
Para exaltar as regiões Sul e Sudeste, Zema sapecou desdém e preconceito com o Norte e o Nordeste. "Se tem estados que podem contribuir para este país dar certo, acredito que são estes sete estados aqui. São estados onde, diferente da grande maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial", afirmou, em Belo Horizonte.
A declaração é xenófoba e falsa. Entre as centenas de reações ao discurso de Zema, reproduzo posts do economista Pedro Fernando Nery no Twitter: “Isso é um mito. Quem está no Bolsa Família trabalha ou quer trabalhar. O recebimento não impede ocupação”, respondeu. “70% dos beneficiários estão na força de trabalho. Desses, 80% têm uma ocupação”.
Diretor na área de temas econômicos e sociais da vice-presidência da República, Nery informou ainda que a maior parte trabalha por conta-própria ou é empregado informal. O que de fato é minoria é o emprego com carteira assinada.
“Este argumento parte das reportagens que comparam número de Bolsa Família com número de empregos formais. É uma confusão: eles não são excludentes, e nem emprego formal é a única forma de ocupação”, escreveu o economista.
Contra uma fala criminosa, nem precisamos gastar mais argumentos. O governador repetiu uma mentira tão antiga — ao insinuar que nordestinos são preguiçosos e encostados — que só merece a nossa mais ensolarada indignação. Para ficar grudada no juízo e na memória por muitas e muitas eleições.
Desculpa, leitor e leitora, mas hoje nem deu pra tentar uma graça ou humor. Até a próxima.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do leitor.