Até alguns anos atrás, o atum era um produto subaproveitado no Ceará, apesar da boa qualidade e da abundância deste peixe na orla cearense. Hoje, em torno do pescado, existe uma cadeia produtiva efervescente e com enorme potencial para crescimento no horizonte. Além de abastecer todas as regiões do Brasil, o atum beneficiado aqui já é exportado para países da América Latina, como Chile, Uruguai e Argentina, e Europa. Em janeiro de 2021, um novo passo: pela primeira vez, o pescado chegará aos Estados Unidos, um mercado gigante que pode levar as exportações do setor a um novo patamar.
“Estamos a colaborar com uma marca muito importante nos Estados Unidos. É o início de um bom relacionamento e um momento muito importante”, diz, com um portunhol afiado, o CEO da Crusoe Foods, o espanhol Manuel Ramón Gonzáles Gago.
O executivo destaca o crescimento acelerado do faturamento, que será de 40% neste ano (R$ 185 milhões), apesar da pandemia; e, sobretudo, de toda a rede produtiva que se expande ao redor, incluindo uma nova unidade fabril de latas que começou a operar em outubro, em São Gonçalo do Amarante, conjugada à indústria principal.
Neste ano, os embarques de atum do Ceará para destinos internacionais devem ser de 3.750 toneladas, o maior volume entre todos os estados do País.
Geração de empregos
O segmento de atum e sardinha gera no Estado 450 empregos diretos (70% dos quais ocupados por mulheres) e outros 1.100 indiretos, com a perspectiva de criar 400 vagas a mais. O número de profissionais de pesca envolvidos no setor saltou de quase zero, cinco anos atrás, para aproximadamente 1.000. “Começamos com dois barcos em 2016 e hoje temos 100 barcos”, conta Ramón. O atum é pescado majoritariamente no litoral de Itarema, Acaraú e Icapuí.
Os investimentos em 2020, informa, chegam a R$ 30 milhões, superando a expectativa inicial de R$ 25 milhões. No ano passado, foi celebrado um acordo entre os investidores e o Governo do Estado, por meio do qual a empresa se comprometeu a injetar R$ 100 milhões até 2025, essencialmente em tecnologia industrial e modernização.
O parque produtivo do atum e da sardinha no Ceará deve ser ampliado nos próximos anos, com a instalação de uma outra unidade, voltada para a fabricação de farinha de peixe. Cumprida esta etapa, o aproveitamento do pescado será integral.
É consenso entre executivos do setor que a capacidade de geração de receitas pode ser muito maior, em especial com o crescimento do atum no mercado nacional.
Embora a sardinha ainda tenha a preferência do brasileiro, é no atum que são depositadas as maiores expectativas de expansão, principalmente porque a safra do primeiro peixe vem em trajetória de queda, enquanto a do último só cresce.
Carga tributária
Para que o atum caia definitivamente no cotidiano do cearense, os produtores apontam como principal demanda a redução do ICMS que incide sobre o pescado no Estado, que é de 18%. No caso da sardinha, o imposto é menor: 7%. Se o atum for incluído nos itens da cesta básica, como ocorre em outros estados, a carga tributária cai e, consequentemente, o valor do produto, o que estimularia o consumo.
“A indústria é no Ceará, o atum é do Ceará, por que o imposto aqui é mais alto?”, questiona o espanhol, segundo o qual já há demandas com o Governo do Estado e “boas conversas” para reduzir a cobrança do imposto. “Se conseguirmos o pleito do ICMS, o pulo será muito grande para todos”, projeta.