A mágoa nos aprisiona, é uma armadilha, mas o perdão nos liberta

Se existe algo muito comum e natural é não gostarmos quando as coisas não são do jeito que gostaríamos que fosse. O modo como reagimos a frustração é que pode ser saudável ou adoecido. 

Quanto mais imaturos formos, maior será a nossa reação diante de uma frustração. E, claro, o nosso sofrimento. Afinal de contas, o sofrimento está mais relacionado à dimensão que dermos ao fato do que ao fato em si. 

A raiva é uma das emoções básicas, juntamente com alegria, tristeza e medo. A emoção é uma reação natural e pontual, portanto podemos sentir a raiva, que vem e passa.  

No entanto, se ficarmos cultivando essa raiva, vai se instalar um sentimento: a mágoa. Essa, independentemente de ser manifesta ou guardada, trará muitos malefícios. 

Há quem defenda que, na mágoa, 10% está relacionado ao fato causador e 90% à memória que é revitalizada constantemente. 

Então, quando a mágoa é instalada, como toda pendência, fica consumindo energia do sistema energético que somos, gerando desgaste para o funcionamento como um todo, prejudicando nossa performance em todas as áreas de atuação em nossa vida. Esse conteúdo mal resolvido, ou mesmo não resolvido, nos aprisiona. 

A saída dessa prisão é o perdão. E somente através do perdão. 

Sentindo-se ofendido, você pode ficar na posição de vítima e colocar o outro como algoz. Depois disso, são várias os caminhos: pode ficar esperando que o ofensor venha pedir perdão, pode ficar rememorando repetidamente a situação, pode surgir o desejo de vingança e até a concretização dele, perpetuando um ciclo vicioso que pode se arrastar por muito tempo.  

Esse nível de resposta é desgastante, tira a paz e traz a inquietude, o nervosismo, que prejudicará o sono, a produtividade, os relacionamentos e a saúde em geral. Precisamos pensar num melhor enfrentamento dessas situações que já estão estabelecidas e como sair delas. 

Se você se sentiu ofendido, aceite as emoções que vierem, mas sem deixá-las lhe conduzirem cegamente, como se dirige uma criança.  

Convido-lhe a refletir: veja se não está vitimizando-se, dando uma dimensão maior do que é. Descubra como pode ter contribuído, mesmo que inconscientemente, para esse desfecho. Veja se é possível ver o “ofensor” como ser humano, em crescimento, falível como você mesmo e eu.  

Fazem parte da vida de qualquer pessoa as frustrações. Por que não pode acontecer com você? A consciência infantil funciona nos extremos, é tudo ou nada, é o mundo perfeito ou a desgraça.  

Enquanto seu desejo não for satisfeito, tenderá a ficar “batendo o pé, de cara feia e braços cruzados”, “não saindo do canto”. Sem se dar conta de que o maior sofrimento é gerado por si mesma. Como diz Jean-Paul Sartre: “O que você fez daquilo que te fizeram?”.  

Se você feriu alguém, precisa reconhecer o erro e pedir perdão. Nem sempre encontrará acolhida ou mesmo oportunidade de pedir, mas aproprie-se desse estado de consciência. Aprenda com suas escolhas equivocadas e busque fazer diferente daqui para frente. 

Além de perdoar e ser perdoado, existe o perdoar-se. Reconhecendo que “errou”, acolha-se como humano perfeitamente imperfeito, perdoe-se. Você agiu daquela maneira por ter a maturidade que tinha à época. Se tivesse a lucidez que tem hoje, não agiria daquela forma.  

Afinal, somos todos aprendizes na escola da vida. A mágoa traz estagnação, deixa-nos prisioneiros, e o perdão nos faz livres, aptos a retornar ao fluxo da vida. Não perca tempo, comece agora mesmo a fazer essa faxina necessária no seu coração.  

Paz e bem!  

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.