O futebol é ingrato. Muitas vezes ingrato até demais. O futebol também é grato. Às vezes, muito grato. Questão é saber o dia e a hora dessa mudança de humor. Pode ser de um dia para o outro. Pode ser na própria partida. Há jogos em que a sorte resolve ficar o tempo todo de um lado só. Há jogos em que ela muda de lado a toda hora. Há também heróis e vilões num único jogo. No empate do Fortaleza com o Santos, quem sofreu esse tipo de mudança foi o lateral-esquerdo Crispim. Ele foi, na minha avaliação, o melhor do jogo, máxime pelo belo primeiro tempo que fez. Sairia de campo com os festejos naturais de quem fez a diferença. Aí, por esses caminhos impenetráveis e inexplicáveis que o futebol oferece, há que se descobrir, nas premonições, se há algo para mais ou para menos nas situações que aparecem em campo. Crispim viu na oportunidade de converter o pênalti a chance da consagração definitiva. E justo diante do seu ex-clube. Era bater o pênalti e sair para os abraços, comemorações e mensagens rápidas pela televisão. Mas a perda do pênalti a todos frustrou. E Lucas Crispim viu desabar sobre ele a culpa de não chegar à vice-liderança. Acontece. Agora é a hora de superar as frustrações.
O goleiro Boeck também falhou. No gol de empate do Santos, a defesa parcial dele resultou de uma saída precipitada. Mas Marcelo Boeck tem crédito. A vida é assim mesmo, feita de erros e acertos. No Allianz Parque, em São Paulo, na bela vitória sobre o Palmeiras, ele garantiu a vantagem com uma defesa espetacular.
Um dos fatores importantes do modelo do Ceará é a marcação forte. Espaços mínimos para o adversário. Entretanto, não foi assim diante do Corinthians no Itaquerão. Os dois gols corintianos no primeiro tempo resultaram de uma livre movimentação dos atletas adversários, que não foram incomodados nas conclusões. Guto tem de corrigir isso já.
A propósito de marcação, não é fácil segurar o Flamengo com seu toque envolvente de gente que tem intimidade com a bola. Mas, no dia 10 de janeiro deste ano, Guto conseguiu derrotar (0 x 2) o Flamengo de Rogério Ceni em pleno Maracanã. Agora as circunstâncias são bem diferentes. O Flamengo cresceu nas mãos de Renato Gaúcho.
Mesmo com a retomada flamenguista nas mãos de Renato Gaúcho, há setores vulneráveis. Foi assim que o Internacional, em pleno Maracanã, goleou o favorito. Aplicou 4 a 0, explorando os contra-ataques diante de uma defesa exposta. E assim o Inter foi entrando, sem pedir licença. Claro que isso é uma exceção.