Verdadeiros crimes contra Mané

O meu querido amigo humorista Tom Cavalcante, com quem na década de 1980 trabalhei na apresentação do Nordeste Rural (TV Verdes Mares), enviou-me vídeo que me comoveu. Uma entrevista feita pelo jornalista Flávio Prado, numa conversa bem informal com Mané Garrincha. Flávio então bem jovem. Garrincha já havia encerrado a carreira. O que o Mané conta é estarrecedor. O jogador era ingênuo, puro, assinava contratos em branco. Ele afirma que nunca ligou para dinheiro. Agia como um amador. Acreditava nos dirigentes que diziam que ele era patrimônio do clube. Tão desligado que ganhava CR$ 1.400 cruzeiros e passou a ganhar CR$ 9 mil, mas nem sabia. Conta que só em 1962, já bicampeão do mundo pelo Botafogo, assinou seu primeiro contrato com luvas. Um contrato de três anos, ganhando só CR$ 12 mil de luvas, com salário "de apenas 15 contos por mês". Em torneio na Itália, foi obrigado a jogar seis partidas, sem a mínima condição. Aí davam injeção no joelho dele. E Garrincha jogava feliz porque tinha garantido a cota completa para o clube. Se não jogasse, seria metade.

Impiedosos

Garrincha conta que, em 1963, a Juventus, da Itália, quis comprá-lo por US$ 700 mil. O Botafogo pediu US$ 1 milhão. O time italiano desistiu. Aí, em 1965, ele, já com o joelho estourado, foi vendido para o Corinthians por CR$ 220 milhões. O nome do diretor que Garrincha citou foi Paulo Azeredo.

Bobo

O próprio Garrincha diz que era um bobo. Acreditava em tudo o que os dirigentes do Botafogo lhe diziam. Na conversa, Garrincha reconhece que foi usado pelos dirigentes. Na entrevista, dá para observar ter sido Garrincha um simplório diante da vida. Um absurdo o que fizeram com ele. Maldade humana. Desrespeito.

Ironia

Em 2011 o Botafogo fez uma homenagem ao ex-presidente Paulo Azeredo que, no Salão Glorioso, teve uma exposição sobre sua vida. Paulo foi oito vezes campeão carioca e construiu a sede de General Severiano. Na mesma homenagem, Garrincha foi lembrado. Colocaram no salão um boneco retrô do Mané. Meu Deus...

Garrincha foi um dos maiores gênios do futebol, embora bobo, ingênuo. Não sabia dimensionar o valor que tinha. Por isso mesmo deveria ter sido tratado com respeito.

Um dos maiores ídolos nacionais, tratado dessa maneira. Que leviandade! Que maldade! O ser humano, em nome do lucro e da exploração do semelhante, é mesmo cruel. Que desconsideração para com o atleta, gente.