Velhos tempos do garoto do placar

Na tecnologia avançada de hoje, os placares mostram tudo. Em alta definição, o torcedor pode ver a repetição de lances e tirar dúvidas. Números do espetáculo. A estatística mostra quantas vezes um atleta tocou na bola. Mil detalhes. Nas décadas de 1950 e 1960, não havia nada disso. Os placares eram de madeira. Os números, de acordo com os gols acontecidos no jogo, iam sendo colocados manualmente pelo que se convencionou chamar de “Garoto do Placar”, que nem sempre era um garoto. Quem trouxe o bordão “Garoto do Placar” para o rádio cearense foi o querido narrador Júlio da Imperatriz Sales. E, enquanto perdurou o placar de madeira do PV, lá estava o Julinho chamando o “Garoto do Placar” a cada gol. Conheci o “garoto” que trabalhou nessa função no PV. O nome dele: Manoel Ventura, o Manoelzinho. Anos depois, quando deixou tal função, passou a ser proprietário de um bar defronte à pracinha da Gentilândia, na Rua Paulino Nogueira, bem perto do PV. Tornou-se muito querido no bairro. Continuou estimado na Gentilândia, apesar de ter vendido o bar e ido morar noutro lugar. Agora, vítima do coronavírus, Manoelzinho morreu. Deixou a saudade dos bons tempos do “Garoto do Placar”. 

Dormiu 

Quando Manoelzinho era “Garoto do Placar”, aconteceu um fato hilariante. Ele havia feito uma farra no dia anterior. Estava numa ressaca forte. No domingo foi cedo ao PV porque havia a preliminar às 14 horas. Até aí tudo bem. No jogo principal, o Ceará fez 1 a 0, mas o placar não mudou. Após reclamações da torcida, foram lá e acordaram o Manoelzinho. 

Fim 
Manoelzinho, depois desse problema, nunca mais foi “Garoto do Placar”. Buscou outros meios de vida. Era torcedor do Ceará. Pelo menos, há uma foto em que ele aparece vestido com a camisa do Vozão. A própria expressão “Garoto do Placar” sumiu das narrações esportivas. A função foi extinta com a modernidade. E o Júlio Sales teve de abandoná-la. 

Placares 
Nos estádios modernos não há mais o “Garoto do Placar”, mas nos estádios mais modestos e nos estádios suburbanos persistem os placares de madeira. São bem mais baratos. A propósito, o Maracanã, na final da Copa de 1950, jogo em que o Brasil perdeu a Copa para o Uruguai (2 x 2), tinha um placar pequeno. Não sei se eletrônico.