Sem o 'Memofut', a história fica à deriva

Há algum tempo venho fazendo advertência sobre o risco de ficarmos sem boa parte da memória do nosso futebol. Os mais devotados pesquisadores eram Alfredo Sampaio e Airton Fontenele. Havia entre eles uma diferença: Alfredo voltado mais para o futebol cearense; Airton, para a Seleção Brasileira. Claro que o Fontenele tinha também farto material sobre o futebol local. Enquanto Cristiano Santos esteve à frente do Memofut, um grupo se formou em torno da ideia. Embora com dificuldades financeiras, houve farta gravação de material. Depois da morte de Cristiano, ocorrida no dia cinco de junho de 2015, o Memofut não teve continuidade. Desde então já se passaram cinco anos. Coisa recente, o comunicador Hilton Junior tentou a retomada dos trabalhos do Memofut, mas esbarrou na falta de financiamento para tocar a obra. Com a chegada da crise do coronavírus, a iniciativa teve de ser abortada. Mas Hilton Junior disse que, assim que houver a abertura definitiva, com a volta completa do convívio social, ele pretende elaborar novas articulações. A rigor, falar de passado e de museu é mesmo para quem gosta. Sem amor, não há obra assim que resista. As experiências mostram isso claramente.

Sumiram

O descaso com a memória do futebol e do rádio é incrível. Eu mesmo faço "mea-culpa" por não ter tido o cuidado de guardar a narração que fiz de uma das mais importantes viradas da história do Ceará, ou seja, a vitória sobre o Clube do Remo (3 x 2), no PV, que motivou a terceira partida e o título do Nordestão de 1969. Sumiram todas as gravações.

Vozes

Não há nos arquivos das emissoras de rádio do nosso Estado, nenhuma gravação com as vozes de dois locutores que marcaram época pelo timbre diferenciado: Mardônio Sampaio e Edson Martins. O primeiro apresentou durante muitos anos o Rádio Notícias Verdes Mares. O segundo, na década de 1960, apresentava na Ceará Rádio Clube o "Repórter Alfa".

Outros mais

O comunicador Cauby Chaves, há algum tempo, mostrou antigas gravações contidas nos arquivos da Verdinha. Eram narrações de futebol feitas há mais de 30 anos. Numa delas, de 1981 (faz 39 anos), eu estava narrando um gol. Na complementação de pista estava o repórter Djalma Freire. A vida passa rápido demais, gente.

O arquivo de Alfredo Sampaio, após a sua morte, parece ter ficado com um sobrinho. Depois, teria sido adquirido pela Prefeitura de Maracanaú. Mas não consegui confirmação disso. Nele constavam todas as súmulas do futebol cearense desde a década de 1950.

O acervo de Airton Fontenele está sendo muito bem cuidado pela filha dele, Beth Fontenele. Mas o destino futuro desse valioso acervo tem de ser analisado pela própria família. Enquanto a Beth estiver à frente, está ótimo. Ela gosta. Sim, e depois?