Hoje, posso falar sobre a importância da sala de redação na minha vida. É oxigênio puro para quem, como eu, há 54 anos convive com a intensa movimentação de um setor que respira notícias, alimenta-se de notícias e faz da notícia a razão única de suas atividades. É um repórter que chega esbaforido, mas com a matéria na mão. É o editor que busca as melhores imagens. É o colunista a ligar, conferindo dados de um furo que pretende dar. É o comentarista falando alto, gravando sua participação, ora no rádio, ora na televisão. A ginástica laboral funcionando, mesmo na correria dos trabalhos. É a reunião de pauta ou avaliação do material existente. A impressora acionada. As provas nas mãos dos revisores. Todas as luzes sendo acesas para iluminar o amplo espaço, pois já, já, o telejornal estará no ar. Era assim o cenário em que eu vivia. Vai para a TV. Vai para a rádio. Vai para o jornal. De repente, isolamento. Confinamento. Da efervescência da redação para o conforto do lar. Lindo. Aparentemente um prêmio. Na verdade, um castigo. Prisioneiro, condenado, sem crime cometido. Pelo amor de Deus, devolvam-me a redação.
É diferente
Tenho um estúdio de rádio em casa. Tenho um estúdio de televisão em casa. Tenho uma sala em casa para escrever a coluna do jornal. Para muitos, seria o ideal da comodidade ou da acomodação. Ledo engano. Se a crise sanitária demorar, muita gente irá bater no hospício. Preparem psicólogos e psiquiatras.
Efeitos
Ontem, um episódio hilariante, mas reflexo da realidade. O comentarista Wilton Bezerra, inquieto com o confinamento, deu um carão nele mesmo no "A Grande Jogada", TV Diário. Disse: "Quero chamar atenção de mim mesmo para prestar mais atenção ao programa". Claro, brincadeira. Mas é que em casa cai um pouco a concentração.
Lar, doce lar
Concordo, "Lar, Doce Lar". Lindo. Retrata o aconchego de uma família unida, amada, repleta de carinho, numa troca permanente de sentimentos bons. Não há nada melhor no mundo que situação privilegiada assim. Dádiva de Deus. A paz numa convivência perfeita. Ótimo. Por isso mesmo, para mim, não é lugar de trabalho.
Aceitamos o confinamento em nome do combate ao coronavírus. E vamos continuar assim até quando decidirem as nossas autoridades da área de saúde. Mas mortos de saudade da redação. E mais: contando dias, horas, minutos e segundos para voltar. E voltar felizes, sãos e salvos.
Aí, sim para rever os amigos, queridos companheiros de longas jornadas. Poder abraçá-los, de volta ao batente. Encarar a cidade. Encarar os engarrafamentos (nunca mais reclamarei deles). Ter o direito de ir, e vir, e fazer a curva, pra lá e pra cá, e subir, e descer, e gritar: sou um homem livre.