Palavrões dentro e fora de campo

Seria interessante deixar de lado a hipocrisia para dizer a verdade: palavrão não sai apenas da boca do técnico Rogério Ceni. No mundo dos esportes, sai palavrão de todo lado. Alguém quer dizer que nunca ouviu em coro da torcida, a plenos pulmões, mandar um dirigente ir tomar... Alguém vai querer me convencer de que nunca ouviu, através de vazamentos de áudio pelo rádio ou televisão, alguém mandar alguém para a "pqp"? Agora, com os estádios sem o barulho do torcedor, tudo o que os jogadores, técnicos e demais componentes disserem será captado. Então que cada um evite dizer palavrão, se não quiser sofrer constrangimento nas redes sociais. Ora, se nas reuniões das mais altas cúpulas nacionais os palavrões correm soltos e desenfreados, como pensar em ginásios e estádios puros e imaculados, sem nomes feios? Creio que os únicos lugares livres dos palavrões são os templos religiosos. Nas casas de orações é possível, sim, a ausência completa de palavras indevidas, até porque está posto em São Mateus (12:36): "Por isso vos afirmo que de toda palavra fútil que as pessoas disserem, dela deverão prestar conta no Dia do Juízo". Meu Deus... Diante de tamanho rigor, não vai ser fácil.

Reprovação

Venho de um berço sem palavrão. Minha mãe, Maria José, muito religiosa, jamais admitiu palavrão. Meu pai, Victor, não admitia sequer a palavra esculhambação. Ele a achava chula. Se eu dissesse essa palavra no rádio, como disse muitas vezes, logo dele sofreria uma repreensão. Lamento reconhecer que digo palavrão. Mas lembro logo deles e fico com peso na consciência.

Zelo

O saudoso superintendente do Sistema Verdes Mares, Mansueto Barbosa, era adepto do Espiritismo. Ele não admitia palavrão nos meios de comunicação. Um dia, eu, irritado, disse um palavrão no comentário que faço no programa Paulo Oliveira, na Verdinha. Mansueto me chamou. Mostrou que eu estava errado e que o palavrão só vulgariza e desqualifica.

Momento certo

Tempos depois, indignado, eu chamei de "FDP" o bandido que, armado de revólver, levara a bicicleta do meu filho, Marcel Barros. Ora, Marcel tinha seis anos de idade. O doutor Mansueto ouviu e mandou me chamar. Quando pensei que ia levar outra advertência, ele disse: hoje o palavrão pegou bem porque expressou o que todo mundo teve vontade de dizer.

Conclusão: às vezes, o palavrão é adequado. Marcel ganhara a bicicleta na noite de Natal. Nem deu tempo de curtir. Na manhã seguinte, o ladrão ameaçou matar o menino e a babá dele. Marcel ficou traumatizado, a ponto de não querer sequer outra bicicleta.

O meu desabafo foi compreendido. Daí a aprovação do doutor Mansueto Barbosa. Então, não é hora de crucificar os que dizem palavrão. Hoje quase todo mundo diz. Não é correto. Procure evitar. Afinal, você viu o que está no Evangelho de São Mateus. Logo...