O futebol brasileiro deve muito de suas glórias ao trabalho de Mário Jorge Lobo Zagallo. Primeiro, como jogador. Depois, como treinador. Não há como resumir em um comentário a rica trajetória de um vencedor. O Zagallo do Flamengo. O Zagallo do Botafogo. O Zagallo da Seleção Brasileira. O Zagallo do mundo. O “Formiguinha”, incansável. Depois o treinador que alcançaria o tricampeonato mundial no México em 1970, quando ganhou em definitivo a Taça Jules Rimet para o Brasil.
Em 1984, na Copa Libertadores da América, tive a oportunidade de conhecer bem de perto o cidadão Zagallo. Em Caracas, na Venezuela, passei uma semana hospedado no mesmo hotel em que estava o Flamengo, então dirigido por ele. O Flamengo venceu o ULA de Mérida (0 x 3). Conversamos muito. Zagallo me tratou com extrema delicadeza. Uma experiência excelente porque foi uma oportunidade rara de beber na fonte o saber de um gigante do futebol mundial.
Em 1998, também tive a felicidade de acompanhá-lo na Copa de 1998 na França. Vi a sua altivez e dignidade pela forma como suportou o revés da perda do título, máxime pelo problema havido com Ronaldinho. A grandeza de um homem, não raro, se observa mais nas derrotas do que nos grandes triunfos. Zagallo soube ser grande nos dois extremos: no sucesso e no fracasso. E assim consolidou mais ainda a sua imagem de desportista autêntico.
Legado
O legado de Zagallo somente, com o passar do tempo, será apurado na verdadeira dimensão. Eu menino, com 11 anos de idade, vi à distância a sua proeza na Seleção Brasileira, ganhando a Copa do Mundo de 1958 e o bicampeonato em 1962 no Chile. Eu, já adulto, cronista esportivo, vi, de forma bem próxima, o supervisor Zagallo ser tetra pelo Brasil em 1994 na Copa dos Estados Unidos. É a imagem que guardarei com carinho.
Agradeço a Deus ter me oferecido a chance de conviver com ele alguns dias em Caracas. Ali descobri o ser humano Zagallo, tão campeão quanto o profissional do campo. Um homem iluminado. Ficam a lição e a saudade.