A Internet facilita a imagem, mas deixa longe os corações. O encontro virtual alivia um pouco a ausência do ser humano em carne e osso, mas não oferece o abraço verdadeiro. Não traz o perfume. Não traz o calor. É uma imagem na telinha de um celular ou na telona de televisor gigante. Mas não entrelaça os corpos que continuam separados. Assim, a Igreja pela televisão. Assim o estádio pela televisão. Assim os lares pela televisão. Podem colocar nos estádios milhares de bonecos para dar a impressão de torcida de verdade. Podem colocar efeitos sonoros para dar a impressão de torcidas de verdade. Podem colocar áudio de narradores para dar um efeito de verdade. Mas no íntimo dos corações todos saberão que a única verdade será o jogo. Nesse caso ainda caberá uma observação: jogo com protocolos que o diferenciarão do jogo livre. O exercício de espera tem sido lento, gradual, sofrido, mexido e remexido. A efervescência dos velhos tempos, o burburinho dos grandes clássicos. As filas de carros na direção dos estádios. As manifestações com bandeiras e faixas pelas ruas. Então, a diferença é grande entre o verdadeiro e o virtual. Assim tudo fica muito parecido com o "faz de conta".
Verdade
No retorno do futebol, mesmo sem público nos estádios, haverá verdades verdadeiras. Os gols serão de verdade, tendo seus autores o direito de comemoração como antigamente. No lugar de correr para a galera, vai para a câmera. Os erros e acertos das arbitragens serão verdadeiros, mas agora sem VAR para tirar dúvidas ou complicar mais.
Inversão de valores
Os jogos eletrônicos de futebol tiveram seu lançamento em 1973. O mais popular foi o vídeogame Soccer, da empresa japonesa Taito. De lá para cá houve um aperfeiçoamento. Os de última geração transmitem a sensação de um jogo de verdade, com manifestações da torcida e tudo. Daqui a pouco haverá o inverso: os jogos de verdade tentarão imitar os jogos eletrônicos.
Arbitragem
A bela Carolina Romanholi encerrou sua brilhante carreira na arbitragem cearense. Com ela aprendi alguns macetes sobre como conseguir, ao mesmo tempo, acompanhar a saída da bola na hora do passe e verificar se quem vai recebê-la está impedido ou não. A arbitragem cearense perdeu uma profissional exemplar. Cursa Comunicação na Unifor. Um de seus projetos: ser crítica de arbitragem.
Na década de 1980, notável crítico de arbitragem do Ceará foi José Tosta. Numa transmissão no PV, o narrador Gomes Farias indagou: "E a arbitragem, Tosta?". "Está agradando a gregos e troianos". Minutos depois, a mesma pergunta: "E a arbitragem, Tosta?" Mesma resposta: "Está agradando a gregos e troianos".
Pouco depois, um repórter informou o público presente no Presidente Vargas: 10.180 torcedores. Aí o Paulino Rocha, irreverente todo, não perdeu a chance da piada. Perguntou ao repórter: "Você sabe dizer se nesse público já foram incluídos os gregos e os troianos?" Tosta desabou num sorriso...