Prática questionada
O médico Francisco Lopes, desportista autêntico e torcedor do Fortaleza, lembrou-me um fato que está se tornando comum no futebol cearense. Técnicos do Sul/Sudeste são contratados e aqui realizam seus trabalhos. Alguns, satisfatórios; outros, nem tanto. Mas a questão a ser enfocada agora é outra. Diz respeito basicamente aos técnicos que, depois de prestarem serviço aqui, vão embora para outros centros. Até aí, tudo bem. Acontece que, no novo clube, passam a indicar exatamente os jogadores que formam a base da sua ex-equipe, ou seja, o time cearense. Se não levam os jogadores, geram leilão que provoca subida de preço capaz de comprometer o clube de menor poder aquisitivo. Em síntese, diz Chico Lopes: o futebol cearense virou laboratório. Os técnicos de fora fazem seus estudos e observações na praça local e, ato seguinte, tentam esvaziá-la mediante a contratação de seus melhores valores.
Impedimento
Não vejo como impedir tal procedimento dos técnicos de fora, pois fazem o que a legislação permite. Mesmo assim, há quem considere isso falta de ética. Assunto polêmico, pois há também quem defenda os técnicos, considerando que não ferem os princípios do bem.
Análise
Segundo o médico Chico Lopes, existe deslealdade dos técnicos para com os clubes que os acolheram. Os técnicos, por sua vez, alegam que faz parte da profissão deles a indicação de quem seja útil à montagem de uma boa equipe, independente de vinculações anteriores.
Comum
Todos os técnicos de fora que por aqui passaram, alguns mais outros menos, indicaram jogadores quando chegaram nos seus novos clubes. Hélio dos Anjos fez isso. Agora Paulo Bonamigo, sem contar outros que igualmente assim procederam. E, com certeza, não vai parar por aqui.
Episódios
O futebol cearense é cheio de novidades e de episódios próprios da terrinha. Lelê, meia do Ceará, foi festejado em prosa e verso, autor do mais bonito gol do Campeonato Cearense de 2007. Sim, aquele gol no qual ele encobriu o goleiro Getúlio Vargas, do Fortaleza. Hoje, ninguém mais fala em Lelê. Jogará ele pior do que os que estavam em campo contra o Santa?
Auge
No Fortaleza, Cleiton esteve no auge, tido como artilheiro sensação. De repente, foi sacado do grupo porque não suportara a pressão decorrente de um gol perdido, que poderia ter mantido o Fortaleza na Copa do Brasil.
Ajuste
Na época, houve até um ajuste financeiro em razão do assédio de outros clubes. Cleiton seria o nome da artilharia. Mas uma marcação da torcida não mais deixou Cleiton à vontade. Os gols sumiram. Só agora ele vai retomando a consciência de que tem potencial para seguir.
Cobrança menor
Se Lelê e Cleiton fossem jogadores de fora, por certo não teriam passado pela cobrança que incomoda. Há mais paciência com os contratados vindos de fora do que com a moçada da terrinha. Isso é velho. Santo de casa para ser reconhecido tem de obrar um milagre por hora. Já o jogador de fora nem de milagre precisa.
Muito bom
Não sou contra a importação. Acho que devemos receber bem os jogadores que chegam de outros centros. Mas não admito privilégios. O tratamento tem de ser igual para todos, na cobrança, na pressão, na paciência.
Discriminações
No caso de pressão a mais, citei os dois casos recentes, Cleiton e Lelê. Mas já houve também com Moré. O Jefferson, ex-goleiro do Ceará, Fortaleza e Ferroviário, que o diga. Para ser reconhecido, teve de pegar dois ou três pênaltis numa só decisão. Sem poder levar um frango.
Filosofia
Vejam bem o que diz Givanildo Oliveira na frase do rodapé de hoje. Refere-se à obrigação de fazer o chamado “dever de casa”, mas mostra também a necessidade pontuar fora. Certa a filosofia dele. Ganhar jogos somente em casa não segura ninguém. Por isso o time tem de se expor e arriscar mais, tal como fez no PV.
"Para se garantir entre os quatro, é preciso também buscar pontos fora de casa".
Givanildo Oliveira
Técnico do Santa Cruz