Impossível recuperar o tempo perdido

Conto dias, horas, minutos, segundos. Fico como a olhar aqueles relógios tipo carrilhão, antigos, verdadeiras obras de arte, com o pêndulo a balançar. E o olhar vai e vem. Olhar como quem acompanha intermináveis partidas de tênis. E o olhar vai e vem. E o tempo não passa. Terei ainda alguma chance de ver a vida voltar ao normal? Ver os engarrafamentos na direção dos estádios em dias de grande decisão? Ver os estádios superlotados, com a torcida fazendo o coro ao ritmo da partida? Ainda verei meus entusiasmados colegas de profissão, narrando das cabines dos estádios e não nos estúdios em off tube? Assim, sem avisos ou alertas, de surpresa, tudo mudou. Todos sonham com a hora da liberação, que será também a da libertação. Abram as gaiolas e soltem os passarinhos. Ensinem a voar os que foram criados em cativeiro. Asas à imaginação. Antes mesmo de inventar o avião, Santos Dumont, quando menino, já dizia: "O homem voa". Aqui estou eu voando nas asas da imaginação. Estou indo ao Estádio do Junco, na querida cidade de Sobral, ou ao Romeirão, na querida cidade de Juazeiro do Norte. Impossível recuperar o tempo perdido.

Passou

Não há como recuperar o tempo. Passou, passou. O jovem fica frustrado porque teve de adiar muitos projetos. E não sabe sequer como e quando terá a chance da retomada. Os velhos, os "dinossas", ficam frustrados porque certamente não terão mais a oportunidade nem sequer de concretizar o que pretendiam.

Emoção

Eu estava em casa, participando do programa "A Grande Jogada", comandado por Antero Neto. Entrou a imagem da redação com o repórter Matheus Aragão. Fiquei emocionado. Vi ali, a distância, a minha segunda casa. Minha segunda casa já há quase quarenta anos. Bateu saudade que corta a alma.

Propriedade

A sala da redação é do Sistema Verdes Mares. É do Grupo Edson Queiroz. Sim, eu sei, mas é minha também. É deles pela propriedade registrada em cartório, mas é minha pelos laços sentimentais, registrados na mente e no coração. Eles possuem o imóvel. Eu possuo o pulsar de tantos quantos por aí passaram.

Os meses, esses que passaram, não mais me serão devolvidos. Ficaram para ocasiões futuras os jogos dos diversos certames. Serão disputados, quando autorizarem, sem a presença do torcedor. Também terei de buscar as devidas adaptações. Narrar jogo de futebol sem ninguém no estádio é quase "funeral".

As novas e atuais gerações de cronistas esportivos jamais terão o que a minha geração teve. Como não havia transmissão pela TV, os locutores, comentaristas e repórteres viajavam pelo Brasil inteiro. Tudo ao vivo, em carne e osso. Quanto a essa parte, nada a reclamar. Felicidade muita. Vivi. E como vivi.