Coronavírus e fatos inusitados do futebol

A revolução que a pandemia causou nos esportes é incalculável. De repente, os prazos para contratações tiveram de ser quebrados ou improvisados. Os imediatos empréstimos de jogadores entraram mais em voga que consignados para velhos aposentados. A emergencial montagem das equipes para disputas na reta final do Campeonato Cearense foi um arranjo que tem algo bem cearense: a criatividade. Assim o Guarany de Sobral em boa hora admitiu o recebimento de jogadores das bases do Fortaleza e do Ceará. O Bugre, então, por circunstâncias alheias à sua vontade, formará uma espécie de misto dos dois maiores rivais, embora a identidade seja Cacique do Vale. O Ferroviário, com Marcelo Vilar, cuida de surpreender. Ferrão também fez contratações urgentes. Às vezes, esse tipo de pressa contraria o provérbio e alcança a perfeição. Prontos também Caucaia, Atlético e Barbalha. Cada um com suas dores e queixumes. Se as chances de êxito dos times médios já eram reduzidas, imaginem agora. Louvável, porém, o esforço de todos eles no sentido de cumprirem até o fim as suas missões. Todos os encômios, pois.

Tempo ao tempo

Hoje, o Guarany de Sobral está sendo socorrido por Ceará e Fortaleza. Mas a querida cidade de Sobral também já os socorreu. Quando, no ano 2000, a cidade de Fortaleza ficou sem dispor de um estádio porque interditados estavam PV e Castelão, a decisão do certame foi realizada no Junco. Sobral abriu as portas. E a todos recebeu com carinho.

Inédito

Já imaginaram se, com essa formação mista, o Guarany for campeão? Aí será a surpresa do século. Contrariada ficará a lógica das coisas. E acontecerá algo mais extraordinário ainda: Ceará e Fortaleza terão contribuído para quebrar um tabu de mais de cem anos: um time do interior sagrar-se, em campo, campeão cearense.

Tapetão

Quando cito campeão em campo no tópico acima, apenas quero lembrar que já existe um time do interior campeão cearense: o Icasa. Mas foi um título conquistado no "tapetão", em 1992, junto com Fortaleza, Tiradentes e Ceará. Ano de quatro campeões. Foi uma decisão esdrúxula, ainda hoje levada na ridicularia.

Agora tudo está sendo feito para contornar as situações emergenciais. O ano de 2020 fica definitivamente marcado pela necessidade de o homem, com audácia e inteligência, improvisar. Vencerá quem tiver mais jogo de cintura.

A criatividade terá extrema valia. O jogador mais vivo, mais esperto, saberá evitar os desgastes desnecessários, máxime num tempo em que há uma incógnita sobre como cada organismo responderá, após três meses de paralisação. Fatos inusitados do futebol.