De repente, a conclusão de que os brasileiros técnicos de futebol estão ultrapassados no tempo e no espaço. De repente, Mano Menezes, Felipão, Vanderlei Luxemburgo, Cuca, Renato Gaúcho, Tite e outros menos votados sabem menos do que Jorge Jesus e Jorge Sampaoli. De repente, já, já, não mais cargo privativo de brasileiro nato o comando da Seleção Brasileira. Claro que "cargo privativo" aqui no caso é força de expressão. A qualquer momento, caso a cúpula do futebol brasileiro decida, poderá sim trazer um Guardiola para assumir no lugar de Tite. O assunto, porém, não é tão fácil de ser resolvido. A resistência à ideia acontecerá, não por uma reserva de mercado articulada pelo técnicos profissionais daqui, mas por uma tradição que vem desde 1914, ano da primeira convocação. De minha parte, acharei esquisito ver um estrangeiro no banco por onde passaram Vicente Feola, Aymoré Moreira, Zagalo, Parreira e Felipão. Uma resistência inexplicável. Não se trata de xenofobia. Não é isso. Está mais para uma espécie de orgulho velado de quem não quer ter a humildade de reconhecer a superioridade dos estrangeiros.
Time
Não faço resistência à vinda de técnico estrangeiro para time de futebol daqui. Aceito numa boa. Já no caso da Canarinho há um ranço que me segura. É como se fosse um ultraje, embora ultraje não seja. É bobagem mesmo deste cronista apegado a uma tradição que mais cedo ou tarde será quebrada.
De fora
Na década de 1960, quando ingressei na equipe esportiva da Rádio Uirapuru, conheci o técnico estrangeiro, Janos Tatray, que comandou o Ceará Sporting Clube e a Seleção Cearense. Janos Tatray era húngaro. Ele fez de Campina Grande, na Paraíba, sua cidade. Ser humano admirável. Morreu em 2011.
Prestígio
O futebol húngaro alcançara prestígio internacional, pois a Hungria sagrara-se campeã olímpica em 1952 e vice-campeã do Mundo na Copa de 1954 na Suíça. Um timaço que tinha craques como Kocsis, Hidegkuti, Czibor e Puskas. O técnico Janos Tatray, por ser húngaro, foi no embalo desse prestígio. E assim ganhou espaços no futebol nordestino. Portanto, para mim não há nenhuma novidade na contratação de treinadores estrangeiros. Já vi isso na década de 1960.
Que venham da Europa os técnicos bons, tudo bem. Se há como pagar os valores, uma vez que eles recebem em euro, não vejo motivo para impedir a "importação". O intercâmbio é importante pela troca de experiência que enriquece. Mas acho difícil, porém, algo mais consistente. Parece mais uma onda passageira
Erro é agora entender que todos os técnicos vindos da Europa são melhores que os daqui. Não é assim. Há os de boa qualificação, mas há os medíocres como em qualquer lugar. Não é a posição geográfica que vai determinar quem sabe e quem não sabe de futebol. O trabalho é que mostra quem é quem