A Cruz de Malta e a Estrela Solitária

Confira a coluna desta quinta-feira (29)

O que escrevo agora talvez não seja entendido pelas novas gerações. Hoje, os brasileiros têm nas telas, telões e celulares as imagens dos grandes times do Brasil e do mundo, máxime dos europeus. Na década de 1950, não havia televisão aqui. Vivi o imaginário que o rádio criava. Meu tio, Zé Maria, que morava no Rio, enviava-me exemplares da Revista do Esporte. Só assim era o contato com o futebol do Rio e de São Paulo. As fotos da camisa do Vasco me encantaram. A Cruz de Malta. O ídolo Bellini. Nascia ali a minha simpatia pelo time cruzmaltino. Os anos passaram. O Vasco está numa crise interminável. Dá pena. 

De repente, ressurge brilhante na atual Série A o Botafogo. Minha memória afetiva voltou à década de 1950. Fui buscar os gigantes da Estrela Solitária que tinha no ataque Garrincha, Didi, Quarentinha ou Amoroso, Amarildo e Zagallo, um dos maiores ataques do mundo em todos os tempos. O Botafogo de hoje, líder do Campeonato Brasileiro, tem o poder mágico de suscitar imagens que andavam esquecidas. Às novas gerações, eu digo sem medo de errar: vocês não tiveram a ventura de ver o que eu vi: um Garrincha em plena forma, deixando para trás a fila batida de seus marcadores.  

 

Timaços 

 

Observo que, quando se fala nos maiores times de todos os tempos, logo citam o Santos da década de 1960, com a famosa linha atacante, composta por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. As novas gerações citam o notável Flamengo de 1981, com Andrade, Zico e Adílio; Tita, Nunes e Lico. Realmente dois timaços. 

 

Outros mais 

 

As seleções da Hungria de 1954, da Holanda de 1974, da Espanha de 2010. O timaço do Barcelona, do tiki-taka. A Seleção Brasileira tricampeã no México em 1970. O Cruzeiro de Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão. O Real Madrid de Canário, Del Sol, Di Stéfano, Puskas e Gento. Enfim, times que encantaram pela arte e talento de jogadores extraordinários. 

 

Super-super campeão 

 

O Vasco da Gama também teve seus times inesquecíveis. Na década de 1940, entrou para a história a formação que ficou conhecida como Expresso da Vitória. E, na década de 1950, o time que foi super-super campeão carioca de 1958: Miguel, Paulinho e Bellini; Écio, Orlando e Coronel; Sabará, Almir, Valdemar, Roberto Pinto e Pinga.  

 

Referências 

 

Citaria aqui muitos outros times que encantaram o mundo, embora alguns com passagem efêmera. É o caso da Seleção da Dinamarca, que entrou para a história da Copa de 1986 como Dinamáquina. Tinha como destaque o meia Michael Laudrup. Em 1992, surpreendendo as grandes seleções, sagrou-se campeã da Eurocopa. 

 

Justiça 

 

Hoje, observo referências aos grandes times do mundo. Mas não vejo citação a um dos maiores times de futebol de todos os tempos: o Botafogo, da década de 1960. É hora de fazer justiça. O Botafogo de Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo e Zagalo, cinco bicampeões mundiais titulares pela Seleção Brasileira de 1962 no Chile, merece estar entre os maiores do mundo, sim.