Foram encontradas onze linhas da Bíblia, escritas em um pergaminho enterrado na Caverna dos Horrores, no deserto da Judeia. Os arqueólogos identificaram um texto em grego, parte dos evangelhos dos profetas Zacarias e Naum. Além dos manuscritos, foram achados os ossos de uma criança de seis mil anos, algumas moedas e uma cesta de mantimentos que pode ter mais de dez mil anos.
O Oriente Médio é território de mistérios e segredos que guiam o Ocidente, independentemente da fé e da religião. Fiquei muito atenta quando soube da notícia. Tudo que sai da Terra Santa me impressiona.
Quando estive no Museu de Israel, em Jerusalém, minha maior curiosidade era ver os originais da Bíblia. Queria estar perto do livro que mudou o curso da humanidade, escrito por tantas mãos, em tempos variados, ver os pedaços da sua matéria. E ali estava ele: indecifrável para mim. Incompreensível. Pedacinhos de pergaminho reconstruídos, refeitos, traduzidos. E traduzidos de novo tantas vezes até chegar ao meu idioma, o Português.
Pensei imediatamente nas duas bíblias que guardo comigo e estavam em uma estante, no Ceará, enquanto eu via os manuscritos em Jerusalém. Uma delas pertenceu à minha avó. A outra, a Bíblia de Jerusalém, de capa vermelha, comprei porque era a favorita do Frei Tito, a que ele usou para estudar e rezar.
Aquele texto que estava na minha frente fez um longo caminho. As palavras atravessaram o tempo.
Um dia desses vi uma mulher com uma tatuagem no braço informando a seguinte inscrição: “João 14:1”. Procurei imediatamente a referência - considero o Evangelho de São João o mais bonito e poético do livro.
Parecia uma pista, uma cena de filme, alguém que aparece de repente com uma chave que precisa ser decifrada. Era Jesus quem falava neste verso: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”.
Li esse versículo na véspera de saber o que estava escrito nos manuscritos em grego, anunciados em março de 2021, um mês em que amargamos um número desesperador de mortos e doentes vítimas da Covid-19. É muito difícil acalmar o coração. Os amigos estão perdendo as mães, os pais; estão sendo internados, aguardando leitos na UTI. É imperativo manter a fé em qualquer coisa: em Deus, na ciência, na justiça.
Até agora, os arqueólogos conseguiram reconstruir 11 linhas do texto. Diante do achado bíblico, minha curiosidade era saber se, por um acaso, essas linhas diriam algo para nós, nesse momento, se eram um tipo de recado que o mundo precisava ouvir. Eis parte da mensagem, que consta no livro de Zacarias: "Estas são as coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas".
E onde está a verdade no enfrentamento de uma pandemia? Na ciência. Na pesquisa científica. No trabalho sério dos profissionais envolvidos na prevenção, tratamento e na cura deste mal. Na honestidade de quem respeita a vida do outro.
Em um âmbito mais amplo, a verdade dos governantes é o alicerce de uma sociedade justa. Ela precede a honestidade, a ética, e fundamenta o amor.
O sentido destas linhas me afetou fortemente. Onze linhas que surgem do deserto para aplacar a dor espalhada dos nossos mortos. Que a verdade da ciência, da pesquisa, do SUS e da vacina possa nos salvar desta Caverna dos Horrores onde estamos presos desde o ano passado. A Verdade liberta.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.