Depois de ter passado por uma das maiores dores que foi a perda física do meu pai, em poucos dias, percebi que a minha conexão com o “além” era bem sintonizada.
Minha ligação com o lado de lá, decorre dos meus sonhos. Gosto de dormir cedo e ficar bem em silêncio. Faço toda uma preparação para esse momento: perfumo a cama com lavanda (uso a Jonhson tradicional), calço as meias para aquecer meus pés gelados e uso um tapa olho que veda qualquer iluminação e, aí, ganho outros mundos!
Tenho sonhos incríveis: visito países sem pagar um tostão, mas, por outro lado, enfrento filas para entrar em lugares turísticos, tenho experiência gastronômicas, etc. Só sonho coisa boa ou, se não for tão boa, são sonhos metafóricos e, aí, para entender, aprendi o tal do “let it be”.
Juro que não espero muito para descobrir o tal recado. Ele não vem da minha cabeça, vem do mundo externo e de comprovações fáticas. É impressionante. Compreendo e agradeço a resposta via cosmos.
Algumas vezes, tive a experiência, involuntária, da projeção astral. Dormindo, sai do meu corpo e o vi deitado na cama. Uma sensação de liberdade impressionante! Vi o meu espírito ter que se posicionar tal qual meu corpo para entrar nele novamente. Por um tempo, fiquei sem entender o que era aquilo que acontecia comigo.
Em 2014 foi que, de fato, percebi que tinha algo além com o “além”. Comecei a ter sonhos associados ao meu pai, uma pessoa que era (e sou), fortemente, ligada.
Tínhamos descoberto um câncer, encapsulado, na bexiga e tudo direcionava para um tratamento bem tranquilo.
Foi quando sonhei que estava na praia do Ideal, com um dos meus filhos que acho mais parecido com meu pai, Gustavo, e uma onda imensa pegava nós dois.
Foi um momento bem tenso, mas conseguíamos boiar em águas calmas. Acordei aflita e ativei o “let it be”. Atenta as mensagens, dois dias depois, como um tsunami na minha vida, a notícia chegou: meu pai estava com câncer grave no fígado.
Depois desse, foram muitos sonhos premonitórios. Muitos! Dois deles bem significativos. Um, ele iria fazer o PET scan para ver como estava a evolução da doença. Na noite que antecedia o exame, sonhei que iríamos à clínica, mas quem faria o exame era eu. Imediatamente, liguei e contei.
A resposta dele, nunca perdendo a piada, era que se meu sonho fosse verdadeiro, ele poderia ser chamado de “Santo Zé Augusto”, porque a doença era mortal.
Ele não era um cara dramático, mas verdadeiro e muito pé no chão. Pois bem, fez o exame e o resultado era algo inacreditável: os tumores dele estavam desativados!
Aí quem não perdeu a piada fui eu. Editei uma foto dele com uma auréola de anjo e coloquei na porta da sala do escritório: “Santo Zé Augusto”.
Dois, foi com uma semana antes de morrer. No meu sonho, o médico dele, falecido dois meses antes de um infarto fulminante, entrava na minha sala, vestido de branco e sempre muito sério. Perguntei:
- Oi, Dr. O que o senhor está fazendo aqui?
Ele olhou para mim, colocou as mãos para trás e balançou a cabeça como dissesse um “não”. Virou as costas e saiu.
Não quis acreditar naquele sonho da quinta, mas, no sábado, meu pai recebeu uma foto do jornal “A Comarca de Arganil”, cidade onde a família passava as férias. A foto da capa do jornal era a padroeira da cidade, recebendo a imagem de Nossa Senhora de Fátima, de quem meu pai era devoto, dentro de uma casa de vidro.
Na visão de quem olha a foto, atrás da imagem peregrina estava a casa do Sapatinho (residência de verão da família). Dentro da tal casa de vidro onde guardava a santa, estava a porta do quarto do meu pai.
Recado dado, alinhado com o meu, recebido e compreendido. Ambos comentamos os sonhos, porque não escondíamos nada um do outro. “Let it be” foi a resposta, novamente, porque, aparentemente, estava tudo sob controle. No domingo seguinte, ele já estava no “céu”.
Difícil entender a partida, mas fomos organizando tudo ao longo da doença, sem manhas, com uma dor que rasgava o meu coração, mas fazendo o que tinha que ser feito. Era a mim a quem ele confiava e orientava para determinações pós morte, porque tinha certeza de que minha mãe não conseguiria.
Não sei de onde tirei forças, mas fui fazendo, fui assumindo, fui trabalhando e mantendo as coisas como tinham que ser.
Lá de cima, ele não descansou, como costumam dizer quando alguém parte. Era sonho, atrás de sonho. Cheguei a fazer um acordo toda orientada num sonho que ele revelou dando, inclusive, o banco do reclamante para fazer um depósito. Aquilo foi inacreditável!
Uma amiga bem próxima, ouviu meu sonho na época, antes de tudo acontecer referente a negociação e foi constatando cada passo. Ficou, como diz linguajar cearenses, “bestinha”!
Outro sonho interessante e impressionante foi mostrando o apê novo do Rio. Ele sempre prudente alertou enfaticamente que eu procurasse ter um papelzinho anotado com telefones emergências de um bombeiro.
- Pra que isso, pai? O espaço está novinho, trocamos toda a parte elétrica e hidráulica, não tem nada antigo aqui! Disse a ele no sonho.
- Minha filha, eu que sei. Providencie isso. Respondeu da forma firme e carinhosa.
Quando acordo, sento-me na mesa com a minha família e conto o sonho. Digo, até que dessa vez não tinha nexo com nada, nem se iludissem. Deveria ter sido a saudade que atraía para aquelas coisas.
Mal fecho a boca, a campainha toca. Era a vizinha de baixo. Sabe o que ela disse?
- Bom dia! Desculpe atrapalhá-los cedo da manhã, mas preciso que vocês vejam a minha casa. Tem um banheiro de vocês que está infiltrando no meu banheiro. Precisamos de um bombeiro, urgente!
Disse que iria terminar o café e colocar uma roupa mais apropriada para ir lá e que não demoraria a chegar para resolvermos. Quando virei a chave da porta, lembrei do sonho. Só disse um “valha” e todos ficaram impressionados, mas, claro, diante de tantos sonhos premonitórios pós morte, eles já estavam alertas.
Até que um dia, sonhei com ele e ele disse que iria fazer um trabalho com crianças e demoraria mais um pouco para aparecer. Os sonhos com ele foram ficando mais espaçados, porque ele soube ser zeloso com a minha dor.
O canal comigo estava aberto. Acho que aceitei melhor a partida. Pude, em diversos momentos, abraçá-lo, sentir o cheiro e contar umas novidades do lado de cá.
Sinto-me presenteada com essa possibilidade de acesso ao outro mundo. Se há quem acredite em tudo termina aqui e que as histórias que vivi em sonho fazem parte de inconsciente, ok. Respeito.
Só eu sei o que senti e quais as emoções que vivi. Foi ótimo, poder aliviar minha dor e minha saudade, assim. Eu acredito mesmo que vivemos por um tempo aqui, depois ali e acolá.
Uma hora, voltamos para vivenciar outras experiências e construções da alma. "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia", cito “Hamlet”.
Outro dia, o Tom, meu terapeuta perguntou como estava a minha conexão com meu pai. Expliquei que tenho tentado não o incomodar conversando sobre minhas decisões e indecisões. Procuro resolver, já que estou aqui para isso e fui muito bem orientada por ele.
Penso muito em como ele faria e como eu poderia fazer. Confronto o “tico e o teco”, divido por dois e encontro o resultado. Se não der certo, serviu de lição.
Só sei que hoje, dias dos pais, segundo domingo de agosto, tomei gosto para contar algumas, de tantas histórias, do meu pai Augusto, que tinha um Zé na frente e foi um cara muito legal.
Hoje, gostaria de convidar você para aproveitar o tempo que tem para usufruir desses momentos com o seu pai. Caso ele, esteja no além, assim como o meu, dá um toque para mim que te dou a senha o wi-fi que descobri.
Dominguemos, Amém!