Tom Jobim escreveu, certa vez, que é impossível ser feliz sozinho. Às vezes, quero acreditar que quando ele formou essa sentença foi para falar dos artistas e dessa imensa necessidade de troca, de presença, de companhia que todo artista sente para que sua arte exista.
Tudo bem, tudo bem. A música Wave é sobre amor romântico, mas deixa eu contar um pouco sobre a solidão e a solitude do artista, você vai entender.
Desde criança, eu conseguia enxergar o mundo por uma ótica diferente, minha imaginação me fazia criar outras realidades possíveis dentro da minha mente. Acredito que esse seja um dos principais requisitos para se tornar um artista, a nossa imensa capacidade de ressignificar os fatos da vida.
Quando ingressei no Teatro, parecia ter confirmado minha teoria. Me disseram que todo artista tem um “terceiro olho” localizado acima da cabeça, como uma espécie de antena parabólica capaz de captar o intangível, um sensor de movimentos que enxerga o que está para além da visão convencional.
Também me ensinaram que o artista é um verdadeiro sentinela da sociedade, um soldado em constante estado de alerta, atento aos acontecimentos e crítico aos fatos.
É óbvio que todas essas metáforas estão ligadas ao cognitivo, a nossa percepção e capacidade de formular questionamentos e, isso, todo mundo tem. O que diferencia o artista das outras pessoas é o que se faz desses questionamentos. Nas mãos de um artista, a vida vira cena, vira dança, poesia, música, filme, tela, prédio grafitado…
Isso não quer dizer que todo artista consegue ressignificar todo e qualquer fato, claro. Ninguém consegue. É preciso que lhe toque, lhe movimente, lhe comova de alguma forma. Depois, vem o racional, o crítico, a distância, a análise até chegar a criação. Entre a vida e a arte, entre o artista e o espectador, há um longo percurso de sentimentos, sensações, percepções, processos criativos e receptividade.
Essa troca é essencial. Artista é indivíduo em constante contato e sensibilidade com o coletivo. Precisa disso. A arte precisa dessa relação umbilical entre artista e público para se manter viva. E isso não quer dizer que ele precise ser uma celebridade para ser ovacionado, mas a arte precisa de reconhecimento e o artista deve ter seu trabalho reverenciado.
Entre elogios e aplausos, entre as lacunas dessa troca fundamental entre artista e público, há imensos vazios de solidão, seja no próprio ato criativo e autocrítico, nos minutos que antecedem a entrada no palco, enquanto se concentra nas coxias ou mesmo quando encerra um show e volta pra sua casa ou quarto de hotel. Há um vazio, um silêncio, um sentimento de coisa nenhuma envolvida na adrenalina e no descarregar de emoções depois de uma apresentação.
Logo após deixar o público, o artista se vê novamente na busca pelo próximo encontro. Ele se nutre disso. Não se trata de egocentrismo, mas de necessidade de contato, de relação. Todo artista sabe que é impossível ser feliz sozinho, porque fundamental é mesmo a troca de afeto.
O artista só se sente completo quando está em movimento.
Uma profissão solitária em função do coletivo.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor