Depois de quase 12 anos longe dos palcos de teatro, em 2024 resolvi tomar o caminho de volta. Nesta sexta (23) e sábado (24), apresento a Fortaleza meu novo solo Pequeno Monstro, com direção de Andréia Pires, no Cineteatro São Luiz.
O espetáculo reflete sobre a realidade brasileira de violência contra pessoas LGBTQIAP+, lançando luz, especificamente, sobre violência sexual e bullying contra meninos com comportamentos considerados desviantes da norma, tendo início ainda na infância. Um fato cruel, mas pouco debatido.
No enredo, trago Mombaça, minha cidade natal, como ponto de partida, a minha origem familiar. Minha mãe, Dona Rita, inclusive, tem forte presença na montagem. Apesar das referências reais, não se trata de uma biografia. Uso minha história como fio condutor, apenas uma ponta de iceberg para relatar diversos outros casos levantados ao longo da pesquisa e construção da dramaturgia.
“Pequeno Monstro” surgiu em 2020, quando o escrevi pensando nas plataformas online – única opção para os artistas em época de pandemia. O título original chamava-se Bixa, Viado, Frango e, mais uma vez, me inspirei na obra de um autor que tenho como ídolo: Caio Fernando Abreu.
Quando o período pandêmico passou, ensaiei o retorno ao teatro diversas vezes, mas o cinema, a TV e a música sempre acabavam adiando essa empreitada. Entre os desejos de ano novo, coloquei como meta estrear a peça. Reescrevi o texto, adaptei para um palco de verdade, pensei nos detalhes de tudo, especialmente como gostaria que o audiovisual estivesse junto e me lancei no desafio de aprender a tocar bateria.
Em abril, ainda em Fortaleza, fiz uma abertura de processo na Casa Absurda, sede do grupo Pavilhão da Magnólia, queria ouvir o que as pessoas tinham a dizer sobre a peça para que essa construção fosse mais coletiva, para que eu entendesse como a peça tocava as pessoas. Isso foi essencial para a longa temporada de apresentações que vivi em seguida.
Ao final de maio, estreei no Rio de Janeiro, no Teatro Poeira, ficando em cartaz por dois meses de quinta a domingo. Logo depois, fiz temporada em São Paulo, no Itaú Cultural, ambos com ótimas críticas. O que posso dizer dessas apresentações é que elas me fizeram lapidar com ainda mais vigor o que vou mostrar a Fortaleza.
É bom estar em casa. É bom estar em casa fazendo teatro, com os pés descalços no tablado, onde tudo começou. Tudo tem outro sabor. Doze anos depois, sigo com o mesmo objetivo: fazer da minha arte a provocação para debates importantes. Precisamos falar sobre nossas crianças. Espero vocês.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor