A pandemia de Covid-19 trouxe sacrifícios para a maioria da população. Em um país desigual como o Brasil, impactos e danos sociais recaem, de maneira diferente, sobre os diversos grupos sociais. Para a maioria de trabalhadores e pobres, moradores das periferias e favelas, a realidade passou longe do isolamento social e do #FiqueEmCasa.
Parcela significativa da população sequer teve o direito à proteção, inclusive, se ficasse em casa o país parava. Falo de homens e mulheres que mantêm os serviços essenciais: o rapaz do aplicativo; o frentista do posto; as mulheres que compõem a massa hospitalar; o gari; e os vários trabalhadores que fazem girar a economia do cuidado. Neste grupo mais sacrificado na pandemia, destacam-se as mulheres.
E quando mergulhamos no olho do furacão encontramos mães, solteiras, com mais de dois filhos, geralmente, com um ou dois idosos em casa.
Nas favelas, elas correspondem a cerca de 40% das chefias dos lares, em uma realidade álcool e gel, são elas que se viram para conseguir água, sabão e comida na mesa, que não chegam regularmente aos lares de quase metade da população.
Durante os últimos 12 meses, nós da CUFA fomos a público fazer o que nunca fizemos: pedir doações em comida, dinheiro, material de higiene e limpeza, gás, chips de telefone, toda e qualquer ajuda que pudesse amenizar o sofrimento.
As “mães das favelas”, embora as mais atingidas, são quem melhor reage ao receber qualquer ajuda. Fortalecê-las é apostar em uma tecnologia de afeto e potência humana que ativa proteção para crianças e idosos, que melhora a economia local equilibrando receita e despesa muito melhor do que muito economista. Para ajudar estas mães, reativamos o programa Mães da Favela em 2021, pois até que chegue as boias neste naufrágio, não podemos permitir que estas mulheres se afoguem.
Todos nós apostávamos que iríamos virar o ano com perspectivas melhores e, diga-se de passagem, a favela deu a maior lição de equilíbrio emocional, pois não houve revolta organizada, tumultos ou saques, pelo contrário, uma onda de solidariedade de lideranças e empresas, juntos, fez a solidariedade ser mais contagiosa que o vírus.
Infelizmente, o cenário não foi o esperado, as mães da favela estão sem perspectiva de vacina, com desemprego em alta, isoladas e mais precarizadas, com os filhos fora da escola e com a fome batendo à porta. Queremos apostar que findaremos essa tempestade imperfeita, porque estamos no limite e não podemos mais errar e negar a realidade.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor