A Expocrato termina neste domingo (16). É o nosso carnaval. A festa das festas no Cariri, sem dúvida. Fevereiro aqui até tem ziriguidum, mas nada se compara ao arrasta-pé de julho.
Como sabemos, uma canção sempre ganha a preferência nesses momentos em que se reúnem milhares para apreciar a arte musical. Em 2023, o sucesso é "Chorei na Vaquejada".
"Saudades da minha morena! Chorei." O refrão está na boca do povo. Na Expocrato -- e compareci à maioria das noites --, quase todos os artistas do forró interpretaram a canção, originalmente gravada por Eric Land e Tarcísio do Acordeon.
Eric, que é um músico conhecido, foi um dos compositores, mas a outra pessoa responsável por essa canção tem uma história ainda discreta, que vale a pena conhecer mais de perto.
Aos 21 anos, Renatha Sales mora em Arajara, distrito da zona rural de Barbalha. É filha de um agricultor que migrou para São Paulo, onde trabalha em lavoura de laranja, e de uma aposentada que completa a renda com costura. Até o ano passado, a jovem era auxiliar de produção em uma fábrica de garrafa pet e recicláveis.
Largou o emprego para tentar viver da arte. E está conseguindo. "Chorei na Vaquejada" pode ser o primeiro dos sucessos. A composição ultrapassou as fronteiras da Nação Nordestina.
Durante o mês de junho, ditou o ritmo de festas de São João. Ficou entre as 15 mais ouvidas no Brasil na lista de uma das maiores plataformas de música por demanda do mundo.
Intérprete e compositora abraçados
Na madrugada de sexta-feira (14), Renatha foi aos bastidores da Expocrato para abraçar e conhecer Tarcísio do Acordeon. A jovem vestia uma calça jeans, uma blusa na cor bege, tinha o cabelo preso para trás. Sorria mais do que falava.
"Sua vida vai mudar a partir daquele dia que você escreveu aquela música", disse Tarcísio, que também é do Cariri, de Campos Sales. Olhando para a câmera do celular do irmão de Renatha, que registrou o momento, o artista completou, apontando para ela: "Essa aqui é a mulher da canetada, tem que respeitar".
Renatha respondeu com uma risada tímida e fez o sinal de positivo. No seu tom de pele pardo, feições indígenas no rosto, a compositora tem a nossa cara, a fisionomia do homem e da mulher Kariri, parafraseando a saudosa arqueóloga Rosiane Limaverde.