Me mudei. Depois de uns anos de aluguel, aqui estou eu e meu noivo, numa amizade com o banco, dentro de um novo apartamento.
Quando chegamos, algumas mudanças. Não estruturais, por enquanto (a amizade a que me refiro com o banco custa caro). Precisava de uma pedra aqui, um móvel ali, para debaixo da pia, uma pintura de parede que não fizemos no apartamento passado. E aí a gente se empolga, né?
Compra um quadro para parede pintada, pede para fazerem o móvel, a pedra, pede para pintarem a parede, para escolherem os móveis, compra o vaso que alguém disse que combinaria, terceiriza tudo. Que bom que podemos terceirizar, é fato que fica mais bem feito. Eu particularmente, defensora da praticidadea digo: terceirizar é a minha praia.
Mês passado, resgatamos uma impressora antiga e compramos cartuchos. Ela serviu. Achei umas imagens na internet, comprei umas molduras e começamos a imprimir e fazer quadrinhos. Agora temos um quadro na sala que eu mesma “fiz”.
E de todos os móveis construídos e lindíssimos, bem feitos e profissionais da casa, meu quadrinho é o que me abre um sorriso bem largo. Ele foi fruto de um trabalho dos donos da casa mesmo que mínimo.
A expectativa, a busca da imagem, a chegada do cartucho (caraca, vou ter uma impressora!), quando imprimimos, e eu pensei: deu certo! Um “hi five” entre eu e ele, e ali estava: o quadro cheio de valor agregado e, sem sombra de dúvidas, com falhas de impressão e invendável.
Onde estão os invendáveis da sua casa? A parede que manchou de tinta demais porque você resolveu pintar, aquele móvel que você tentou restaurar e ficou pior e que, mesmo depois de ajeitar, ficou marcado de história, aquela tinta que você comprou errado e deixou uma marca permanente, o suporte de lã pro vaso de plantas que você aprendeu no youtube, a cadeira que você comprou numa feirinha especial, a boneca vermelha e azul da minha infância no quarto da minha filha no meio de um adorável e impecável enxoval rosê encomendado.
De tantas outras coisas que formam um lar, seguramente ter marcas das nossas mãos nos dá a sensação de morar em um lugar que, além da nossa cara, carrega nossa história, tentativas, um dia ocioso de quarentena que virou um tapete pintado à mão – nem sempre bonito, mas de valor incalculável. Isso! Achei a palavra que procurava enquanto escrevia esse texto! Valor. O valor. Daqueles que digo que valem mais do que dinheiro.
Continuarei terceirizando porque móvel, realmente, eu não sei fazer e não confio nas minhas aptidões para tal, mas tem um armário aqui... que vai sair do branco para o azul em breve e sem garantias de resultado.
Para além do que pagamos ao banco, nossa casa hoje, para nós, depois dos quadrinhos, tem um valor muito mais alto. Sorte a nossa que pagamos “apenas” o valor material.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.