Em meio à pandemia do novo coronavírus, a rotina de treinos dos atletas mudou. Adaptações e arranjos foram necessários para garantir o condicionamento de quem está se preparando para as Olimpíadas. Diante da instabilidade causada pela Covid-19 no Brasil, a opção encontrada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) foi levar um grupo para treinar onde a doença está mais controlada.
Portugal é o destino escolhido e o embarque do primeiro grupo composto por cerca de 70 atletas (o número exato só será divulgado quando sair o resultado de todos os exames para identificação de Covid-19) acontece nesta sexta-feira (17). Nesse primeiro pelotão haverá atletas do boxe, ginástica, judô, nado artístico e natação.
O início da Missão Europa precisou ser adiado, pois em Portugal há restrições para entrada de brasileiros por conta da situação da pandemia por aqui. Só entram no país lusitano cidadãos nacionais e estrangeiros, com residência legal em território português, e cidadãos da União Europeia. Além disso, é preciso apresentar o teste negativo PCR para Covid-19, realizado em até 72 horas de antecedência do voo.
Mas o COB conseguiu autorização para o ingresso do Time Brasil, a partir da legislação que permite a entrada de brasileiros para exercício de atividade profissional no país. Os protocolos de segurança serão cumpridos à risca e toda a delegação realizou testes de identificação de Covid-19. Novos exames serão realizados na chegada.
A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) é uma das que contarão com representantes nesta primeira etapa da missão. Deverão ser 12 atletas da natação e três do nado artístico. Os competidores ainda não estão com a vaga garantida nas Olimpíadas, mas o critério para a escolha dos integrantes do grupo foi ter atingido ou superado, em 2019, o índice estipulado pela Federação Internacional de Natação. A seletiva que define quem irá aos Jogos só deve acontecer em abril de 2021.
O diretor de natação da CBDA, Eduardo Fischer, destacou a estrutura do centro de treinamentos em Rio Maior, local onde o próprio já se preparou para a edição das Olimpíadas, em 2004. “É um centro de excelência […], inclusive lá eles também têm alojamento, refeitório. O atleta fica lá dentro isolado […], o que é muito vantajoso nesse momento de pandemia, porque você evita que o atleta fique se movimentando. Conta com piscinas de alta performance, placar eletrônico e câmeras subaquáticas.”
Além disso, o convívio no centro de treinamentos já vai possibilitar aos atletas um gostinho do clima olímpico. “A intenção da confederação é iniciar todos os dias com um trabalho em grupo, para depois distribuir a carga de treinos, já que cada um vem de uma situação diferente. É uma possibilidade de fortalecer o espírito de time e união, já visando os jogos olímpicos”. Os atletas devem ficar do 4 x 100 livre devem ficar em Portugal até 28 de agosto, o retorno do restante do grupo está previsto para 8 de agosto.
Na última edição das Olimpíadas, no Rio, a natação brasileira não chegou ao pódio, mas a expectativa para Tóquio é mais animadora e para Eduardo há boas possibilidades de conquistar medalhas.
Outra confederação que terá representantes na Missão Europa é a de judô. Devem viajar 28 atletas, que ficarão, inicialmente, três dias no centro de treinamentos, em Rio Maior e depois irão para Coimbra, onde encontrarão a delegação portuguesa e contarão com uma estrutura organizada pela federação local. O planejamento prevê treinos em terras lusitanas por cerca de 45 dias.
Entre os integrantes do Time Brasil está a campeã olímpica Sarah Menezes. A judoca de 30 anos não parou os treinamentos durante a pandemia. Ela conta que ficou confinada em sua cidade natal, Teresina, com colaboradores que deram suporte à rotina. A convocação para a Missão Europa é oportunidade de intensificar a preparação em busca da vaga para sua quarta edição das Olimpíadas. Sarah foi a primeira mulher brasileira a conquistar medalha de ouro nos Jogos, em Londres 2012 e lembra com orgulho o feito: “representa a minha história, todo o esforço que tive, o meu trabalho.”
A classificação olímpica é definida através do ranking da federação internacional. A situação de Sarah é bastante complicada, ocupa a 32ª posição no momento. A piauiense teve que passar por uma série de adaptações, entre elas a mudança de categoria para a peso meio-leve e a recuperação de lesão, após cirurgia por conta do rompimento do ligamento do músculo peitoral esquerdo. Se classificam para Tóquio as 18 atletas mais bem ranqueadas em cada uma das sete categorias de peso e há ainda uma qualificação continental, com um adicional de 100 atletas (categorias feminina e masculina) de acordo com um ranking por continente.
O judô é o esporte individual no qual o Brasil mais conquistou medalhas olímpicas. São 22 ao todo, quatro ouros, três pratas e 15 bronzes. Para o gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô, Ney Wilson Pereira, ainda é cedo para traçar uma meta de medalhas em relação aos jogos de Tóquio, já que ainda não há definição dos competidores. Nas últimas duas edições, o país ficou em 6º lugar no quadro da modalidade. “É muito difícil fazer essa previsão [...], o que a gente pretende é manter ou melhorar essa posição no quadro geral de medalhas.”
Outros grupos devem integrar a Missão Europa, que além de Rio Maior e Coimbra terá bases em Cascais e Sangalhos. A previsão do COB é enviar a Portugal até dezembro, cerca de 200 atletas, além de técnicos e equipe multidisciplinares, de 16 modalidades. O investimento previsto é de R$13,7 milhões em logística.