Nove meses entre o seis de agosto de 2021, quando veio a público o resultado do teste antidoping e o 23 de maio de 2022, data em que o Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem julgou Tandara Caixeta culpada pelo uso da substância ostarina.
Para a jogadora de vôlei, a pena de quatro anos de suspensão pode significar o fim da carreira, já que em 2025 ela completará 37 anos e passar tanto tempo longe das quadras é um baque significativo. Ainda com possibilidades de reverter essa decisão, a defesa de Tandara vai recorrer ao Pleno do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem e uma nova audiência pode ser realizada em dois ou três meses. Caso a suspensão seja mantida, o caso pode ser levado à Corte Arbitral do Esporte (CAS).
Tandara tem um histórico vitorioso no vôlei, em clubes e na seleção, onde conquistou como título mais importante o ouro olímpico em Londres 2012. Pelas redes sociais, ela reiterou o sentimento de angústia com o que considera injustiça e reforça que irá lutar para reestabelecer sua inocência.
Para uma atleta de alto rendimento, a rotina de treinamentos é imprescindível para a manutenção do nível de competitividade. Tandara, aos 33 anos, entra em uma faixa etária em que diversos fatores passam a influenciar. Pensar em continuidade passa a ser questionável e perder essa referência em uma posição em que o Brasil revelou grandes nomes para o mundo, como Sheilla, Mari e Rosamaria, por exemplo é sinal para antecipar ainda mais a renovação na seleção.
Tandara teve o resultado do exame antididoping divulgado pouco antes da semifinal olímpica em Tóquio, no ano passado e não completou a campanha que levaria a seleção à prata na competição.
Outros atletas que tinham grandes chances de representar o Brasil em Tóquio foram impossibilitados por conta de doping. Um desses principais nomes é o da judoca Rafaela Silva, suspensa por dois anos a partir da reprovação em exame durante os Jogos Pan-Americanos de 2019. O resultado ainda levou a campeã olímpica na Rio 2016 a perder a medalha conquistada durante o mundial, também em 2019. Além de Rafaela, nomes como Flávia Figueiredo, do boxe, André Calvelo, da natação e Wagner Domingos, do lançamento de martelo pegaram ganchos de suspensão e não puderam participar de Tóquio 2020.
Em entrevista à coluna, o vice-presidente da Sociedade Cearense de Medicina do Esporte, Eduardo Vasconcelos, deu mais detalhes sobre esse cenário de doping no esporte e as consequências do uso de substâncias irregulares para os atletas.
O que é o Doping?
Para contextualizar, o “Doping é caracterizado pelo uso de substâncias ou métodos que podem alterar a resposta do corpo frente a um estímulo em busca de melhora no desempenho esportivo. Na maior parte dos casos entre atletas, o doping é realizado para potencializar seu rendimento, força, agilidade ou até mesmo na perda de peso.”
Inicialmente, ao sair o resultado adverso para o doping de Tandara, a suspeita inicial da própria atleta era do uso de remédio para controle menstrual. Ao julgamento, o argumento da defesa era de contaminação cruzada associada ao uso de suplemento alimentar. Por haver um controle rígido em relação ao uso de substâncias, cabe aos atletas atenção máxima. O médico do esporte alerta:
“[É importante] Ter sempre o acompanhamento médico e nutricional especializado para orientar e prescrever todo e qualquer medicamento ou suplemento que esse atleta venha a usar, pois algumas vezes o atleta “cai” no doping inadvertidamente por usar alguma medicação pra dor proibido, por exemplo.”
No caso da ex-oposta da seleção brasileira, o médico explica: “A substância que ela foi acusada de fazer uso é um anabolizante e o uso dessas substâncias aumentam a massa muscular tornando ela muito mais competitiva, sendo injusto com as demais atletas que supostamente não usam, por isso a pena por uso de anabolizantes é a máxima prevista.”
O que chama atenção e gerou repercussão foi o resultado de um exame que foi feito quase um mês antes, quando a atleta ainda estava em preparação, no Brasil, ter saído já na reta final das Olimpíadas.
Dopagem no esporte é uma abordagem sempre polêmica, mas não recente. Relatos históricos trazem a prática nos Jogos da Antiguidade, quando atletas olímpicos gregos tentavam melhorar o desempenho utilizando substâncias como conhaque, cogumelos e alucinógenos.
Punição não apenas individualmente, mas em massa é o que pode ocorrer em situações de dopagem. O caso da Rússia é o mais recente. Inicialmente, o atletismo do País ficou fora dos Jogos do Rio, em 2016. Na edição de Tóquio, em 2021, os atletas russos tiveram que competir como neutros, representando o Comitê Olímpico Russo, sem bandeira e nem hino nacional. Isso por conta do escândalo, que teve início em 2015, de casos de dopagem no esporte do País. Em 2019, a Agência Mundial Antidoping excluiu a Rússia das principais competições do mundo e a punição é válida até o fim deste ano.
Além das punições esportivas, consequências para a saúde são recorrentes como destaca o médico:
“ Essas substâncias geram alto risco para a saúde dos atletas e esportistas em geral, pois podem potencializar a proliferação de células cancerígenas, resultando em alguns tipos de câncer, sobrecarga cardiovascular, sobrecarga hepática (já que grande parte das substâncias são metabolizadas no fígado), alteração dos níveis de colesterol, além do aumento de acne, pelos, alteração da voz e tamanho de ossos, bem como lesões mais frequentes e crônicas em diversos tendões.”
Sem Tandara, a seleção feminina inicia a nova temporada na Liga das Nações na próxima terça-feira, 31, contra Alemanha, às 19h. Novo ciclo, novos nomes e uma nova tentativa de colocar o vôlei do Brasil de volta no topo.