Nas última semanas, as declarações do Presidente Jair Bolsonaro continuaram dando o que falar! Dentre tantas polêmicas, uma ganhou as manchetes de noticiários internacionais. Foi o contraditório pronunciamento na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas afirmando que o “Brasil é a solução, e não o problema”. O discurso nada bem aceito, vai contra uma realidade dura e quase irreversível no qual o país vem passando e não é de hoje.
Palavras como desmatamento, queimadas, aquecimento global e todas que se referem ao desrespeito à natureza se tornaram comuns no nosso cotidiano. São malefícios visíveis que teimamos continuar assistindo acontecer de braços cruzados e sem imaginar as consequências futuras, aliás, o presente já demonstra tais reações.
Quando nos referimos à esse “país tropical”, repleto de biodiversidade, sentimos na pele os maus tratos perante nossa matéria mãe natureza que nos deu a vida e possibilita a propagação dela. Ecossistemas são devastados pelo egoísmo do homem e por falhas políticas públicas.
Dentre gritos de ambientalistas e partidários da causa, manifestos musicais dentro do cancioneiro engajado do país fizeram do tema também versos. Do Forró ao Rock, a música popular brasileira também vem tentando alertar para o mundo que estamos o destruindo e precisamos olhar para o verde.
Da sanfona ao violão
Tudo que possuímos é fruto da natureza, aliás, nós somos resultado dela e deveríamos ter por obrigação preservá-la. Foi nesse sentido que muitos artistas, a partir dos anos 1970 e, principalmente, após o Rio 92, interpretaram os sons das matas e dos oceanos que clamavam socorro.
Uma das mais famosas e também regravadas é a popular “Planeta Água” de Guilherme Arantes. A letra relata a importância do elemento natural em nossas vidas e que esse enche os rios, fontes, corpo e merece ser valorizado. A faixa ganha ainda mais força por ser lançada no álbum “Amanhã”, em 1983, que pelo título já afirma qual é sua maior preocupação.
Foi com esse sentimento admirado diante a imensidão desse globo redondo no qual chamamos de mundo que Caetano Veloso compôs a fascinante “Terra”. A inspiração veio de uma cena, ainda dos cárceres da Ditadura Militar, de quando recebeu de sua esposa Dedé as fotografias da Apollo 8 que mostravam aquele planeta azul.
Na composição, o artista dedilha em seu violão a “menina Terra” que não se apresenta nua, mas vestida por nuvens no qual aquele “errante navegante” jamais esqueceria. Mesmo que os versos não falem diretamente das mudanças climáticas e devastação do verde, ela resgata um amor diante nossas origens mais primárias.
A palavra “Terra”, além de ser astro, também nomeia o solo que dá o trigo e a cana, o pão e o mel. É assim que Milton Nascimento e Chico Buarque fazem juntos “Cio da Terra”, exaltando em letra e melodia o plantio de chão fecundo, sem agrotóxico, que concede tudo no qual o homem precisa.
Vale destacar também outra canção de Chico, agora em parceria com Francis Hime, chamada “Passaredo” implora que as andorinhas, uirapurus e macucos tomem cuidado pois o “homem vem ai”. Infelizmente, ele veio e matou cantos que não sabe reproduzir.
O próprio Tom Jobim, inspirado nos vales naturais cariocas, sempre falou do meio ambiente em suas composições. Em seus últimos anos de vida, sua grande atenção foi a de ir contra a destruição da flora e da fauna. A linda “Passarim” fala exatamente disso, de um pássaro que nem pousar em paz pode, pois o fogo comeu o mato ou tiro do desenvolvimento o persegue.
Mas nem só na batida sofisticada da MPB ou da Bossa fizeram os protestos ritmados. “Xote Ecológico”, de Aguinaldo Batista e Luiz Gonzaga, traça no som da sanfona frases fortes do sertanejo afirmando que a “terra está morrendo e não dá mais para plantar”, a poluição comeu tudo e até o ilustre Chico Mendes foi morto junto com os rios e árvores.
Amazônia continua sendo insônia
Mesmo que o Presidente da República diga que não, a devastação da “Amazônia continua sendo insônia do mundo”. A frase rimada não é minha, mas do capixaba Roberto Carlos que em 1989 compôs um disco com o nome da floresta para sinalizar que também queria adentrar na causa.
Essa preocupação não era novidade na mente do “Rei”, em 1981 o cantor gravou “As Baleias”, parceria sua com o tremendão Erasmo Carlos. A letra já fala da matança desses animais pela caça, poluição e outras atitudes humanas que não respeitam os demais e só pensa em lucros e cifras.
É amigos, “daqui a pouco não resta madeira nem para o caixão”, são dizeres do Emicida continuando essa briga antiga mostrando a atemporalidade de uma luta que muitas vezes sentimos perder. Antes era neblina, hoje é poluição e continuamos confusos, sem destino, envoltos na nossa própria ganância, conforme o artista.
Muitos cantaram em suas mais diversas formas as causas ambientais, mas infelizmente o “mal continua engolindo rindo”. Vivemos às avessas, criando um legado de descaso e inconsciência. É revoltante ser conivente com esse ato de homicídio praticado diariamente pois, como Pilatos, sinto que também lavo minhas mãos diante tanta injustiça.
Com tanta dor e culpa que me impedem de mais palavras, lembro de Ivan Lins em seu clássico “Nossos Filhos” interpretado pela eterna Elis Regina e peço desculpas para os que a esse planeta vierem. Perdoem a falta de folhas, de ar, de amigos, de escolhas! Os dias eram assim... E se um dia lavarem as águas e brotarem as flores, colham os frutos e digam o gosto para mim...Perdoem!