Os versos que desejo escrever em 2022

As músicas cantadas nos próximos 365 dias irão ritmar os caminhos que o novo ano irá adentrar

“Vida pisa devagar, meu coração cuidado é frágil”, a frase do nosso eterno Belchior se fez presente desde os primeiros segundos do meu ano de 2021. Não era somente um pedido e sim uma súplica desesperada querendo negar o que eu já sabia que estava por vir e não foi um início fácil. 

O avanço da Covid-19 era inevitável. A letra grega "Gama" ganhou nova conotação, a de medo, em meio a segunda onda do vírus, com aumento no número de infectados e alta da ocupação de leitos hospitalares. Famílias foram ceifadas, a doença cruel não deu o direito de muitos se despedirem de entes queridos. Nesse momento o clamor era outro, reavivando o ídolo cearense, Ednardo, invoquei o Pavão Mysteriozo para pedir que “me poupasse do vexame de morrer tão moço”.

De forma lenta e cumprindo o isolamento devido, o tempo voo. Trancado em casa com turbilhão de medos, angústias e incertezas meu coração só desejava “um novo começo era, com gente fina, elegante e sincera”, queria saborear a liberdade como se o futuro sonhado fosse a imersão de um passado não tão distante.

“Para todo mal, a cura” e a da Covid-19 veio em forma de vacina. Aliás, a ciência ecoou feito música para os meus ouvidos. Os meus olhos foram se enchendo de lágrimas a cada familiar sendo vacinado. “São tantas emoções” e assistir minha mãe receber o imunizante foi a maior delas. 

“Viver é melhor que sonhar”, retomo ao eterno rapaz latino americano, agora estampado na minha camisa para anunciar a minha vez de ser vacinado. Cena imortalizada nas paredes da minha memória. Apesar da pandemia no meu 2021, outras experiências existiram no meio do pavor à utopia, muitas páginas da vida foram redigidas ou melhor dizendo, regidas já que meu caminho parece uma grande orquestra.

Resolvi aprender coisas novas, “regressar é reunir dois lados” e nas eternas tentativas de reencontros comigo, decidi que iria tocar violão. No dedilhado lento daquela criança fascinada diante o inédito, alcancei as minhas primeiras notas e concordo com o poeta baiano Caetano Veloso ao afirmar: como é bom tocar um instrumento!

Ah, é “impossível viver sozinho” e devo tanto as pessoas que me cercaram nesses 365 dias. Elos que resignificaram pensamentos, ideologias e o respirar. Por elas, as caminhadas matinais viraram entusiasmadas “andanças” que, por vezes, fui calçado com um “All Star Azul”. Novas amizades me mostraram “o caminho das águas” outras à um aconchegante “Forró Escondido”.

É, “a vida não é brincadeira, amigo. a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, e duplas eternas que iniciaram como uma doce e atemporal “Carta ao Tom” se consolidaram em lindos “dias brancos”. 

“Nada será como antes, amanhã” e os últimos meses provaram bem isso. 2021 foi um ano de mudanças, modificando até a minha cabeça que agora recebe com certa alegria o desconhecido. O novo sempre vem, e isso é fato, resta inovar em sentidos o meu ser que deseja a tal virada de calendário.

Chega de saudade! Deixo as retrospectivas ficarem nas plataformas de streams. Quero agora falar do amanhã, de 2022 e desejo o escrever feito poesia. Aliás, o tal “querer” dá Bruta Flor vira o meu. Aquela alegria ainda segue comigo e recomeçar é todo o dia e toda hora. Quero ter voz ativa, pois ela é uma boa!

Para as próximas cinquenta e duas semanas só ambiciono a brisa do mar, boas risadas, novos ares, loucos sonhos e quem sabe a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida. Não sou geminiano, mas peço desculpas ao Chico por declarar que esse ano vai ser o meu ano mesmo se o destino não quiser.

Agora, com a licença de todos, vou sair por aí com meu violão debaixo do braço, vou por aí a procurar…Me procurar! Na verdade, me dizer frases que nunca falei, carinhos que nunca fiz e me fazer feliz! Egoísmo? Não, mas a compreensão que não devemos pedir à vida para um  ano novo e sim perceber que muito do futuro só depende de cada um de nós. Um 2022 musical para todos. Arregacemos as mangas e sigamos!