Zabumba, sanfona e triângulo são sinônimos do Nordeste. Deles ecoam o forró e o xote que transparecem no arrasta-pé pelos salões de reboco por essa imensa região. É procurando capturar esses elementos em um som gostoso que o cantor e compositor Marcos Lessa lança seu novo single “Desenfreado”.
A música, fruto de uma parceria com o paraibano Felipe Alcântara, não é recente, mas somente agora foi lançada para o público em uma gravação toda especial junto do talentoso Tato Falamansa. A batida já comum aos ouvidos cearense é um acerto do artista em regressar às suas origens, cantando também ritmos queridinhos da nossa terra.
Produzido pela gravadora YahYah Music LLC, “Desenfreado” tem uma letra precisa ao mostrar que a dor de cotovelo é um sentimento universal, sendo esta a base inspiradora da maioria das nossas canções populares. Aliás, foi esse o motivo de sua criação há cinco anos, um término de um namoro que virou um xote moderno, sem perder sua marca dançante.
É preciso falar que, Marcos Lessa encanta e não é de hoje, até mesmo antes do programa The Voice, onde teve sua projeção nacional, o artista sempre garantiu sua marca como um cantor que vale a pena ser ouvido. Com repertório diversificado que vai de Gonzaguinha a Tom Jobim, o cearense é um dos novos nomes do meio musical que merece todo reconhecimento.
Quem nasceu para cantar…
O cancioneiro popular segue refém de um caminho muito impreciso, vendo o passado com pouca valorização. São muitas as incógnitas com relação ao futuro, mas sempre existe esperança. Novas vozes que escolhem bem o que cantar, representam bem essas ideias e não caem no mesmíssimo dos que preferem cantar o pop internacional.
Um desses nomes que carrega essa esperança é o cantor e compositor Marcos Lessa, traçando uma carreira consolidada e despreocupada em fazer fama, afinal o sucesso é uma consequência. Dentre as gravações, os discos "Entre o Mar e o Sertão" (2014), "Estradas: um Tributo a Gonzaguinha" (2015), "Pra Ser Feliz" (2017) e "Sal" (2018).
O mais recente e a prova da sua importância como representante do que há de melhor no meio fonográfico, o cantor gravou pela Biscoito Fino, "Deslizando na Canção", com produção e parceria de ninguém menos que Roberto Menescal, um dos grandes ícones da bossa nova.
Afinação e swing não faltam diante de quem nasceu para cantar. “Depois de 2013, quando participei do The Voice, minha vida ficou muito agitada. Passei um tempo no Rio de Janeiro. Tive uma relação maravilhosa com a turma que fundou a Bossa Nova, tive com Milton Nascimento. Foi muito importante, mas eu decidi voltar para o meu Ceará”, me confidenciou o artista em conversa.
A decisão não foi errada, ao contrário, em sua volta em muitos aspectos é notório o amadurecimento do artista diante repertório, a prova disso é o lançamento do já mencionado “Desenfreado”, single que antecede álbum de músicas regionais.
“Esse trabalho vem antes de um maior, que vai trabalhar essas nossas raízes nordestinas. Além de músicas inéditas, vamos relembrar grandes nomes do nosso xote e baião, como a Marinês e Jackson do Pandeiro. Também vamos convidar amigos como Chambinho do Acordeom e Lucy Alves para duetos”
Empolgado com retorno aos palcos e, principalmente, para as plateias presenciais, o cearense volta muito bem e mais uma vez inovando em um repertório que ele pode seguir para futuros trabalhos. Shows em tributo ao Belchior, por exemplo, viraram comuns no cotidiano do artista e já deixam a sugestão de um futuro álbum.
Ufa! Ainda temos cantores
Exaltar o canto do Lessa, suas composições e trabalhos, não é bajulação e sim um incentivo para que artistas como ele não desistam de escrever um Brasil e o interpretar, seja com a batida sofisticada e romântica da bossa ou no sensual e divertido arrasta-pé do forró. Precisamos lembrar das raízes para plantar novas sementes.
Nem tudo se perdeu no caminho, aliás, a boa música não se perdeu no tempo e nem tão pouco ficou presa na poeira. Ela existe e precisa ser defendida, mesmo que uma garotada insista em ficar meio alheia de cultura, dependendo mais de fama e lucros. Disso já possuímos muitos, e deixamos isso para as trilhas temporais, às vezes mais rápidas que um clipe de Tik Tok.
“A flor não mente para o fruto e o fruto da vida é o amor”, é com esse verso que mais uma vez indico Marcos Lessa para quem deseja passear por um repertório qualificado, plural e que não poupa coração.
Já que uma similaridade minha e do compositor é a marca do chapéu, eu saúdo o tirando em respeito a esse grande artista que merece triunfar ainda mais diante o grande público, já que em obras e técnicas vocais já dominam com maestria de poucos.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.