Jacob do Bandolim tem vida contada em vasta pesquisa biográfica

Livro “Jacob do Bandolim – Um coração que chora” conta a carreira de um dos mais importantes instrumentistas brasileiros, sem esconder fatos polêmicos

“Naquela mesa tá faltando ele/ E a saúde dele tá doendo em mim”. Esses versos imortais já embalaram a saudade de muitos filhos que lamentavam a ausência de um pai. Infelizmente, por ter perdido o meu velho muito cedo, essas palavras também trilharam muitos dos meus dias e das minhas lembranças. 

O que poucos sabem é que diante desse choro de nome “Naquela Mesa” existe uma história de amor. Sergio Bittencourt, autor da canção, a compunha para homenagear o seu pai Jacob do Bandolim, partilhando da sua dor a de muitos filhos desolados. Sérgio tinha uma relação difícil com o pai, o que não diminuiu sua admiração por ele, e não é à toa!

Jacob do Bandolim é um dos principais nomes da música brasileira de todos os tempos. Pode-se dizer que é desses marcos dentro dos sons melódicos deste país tão plural e bonito.Como o codinome já diz, Jacob fez do Bandolim a sua arte, e nunca se mostrou como coadjuvante nos palcos, mesmo quando tinha de compartilhar o protagonismo com outros artistas.

Toda essa história que durou 51 anos de vida é retratada em um longo livro que reforça a sua eternidade. De título “Jacob do Bandolim – Um coração que chora”, a biografia  ultrapassa as 600 páginas e tem autoria do pesquisador baiano Gonçalo Júnior, fazendo uma investigação minuciosa sobre a trajetória do instrumentista.

Para contar uma existência tão brilhante, o escritor usou de uma óptica que não se costuma ver em biografias (quando o autor dá o valor ao biografado que lhe cabe, mas sem o fazer ídolo) humanizando a figura do artista que vem por vezes à frente da pessoa. É genial, e faz querer conhecer mais sobre a vida de Jacob do Bandolim.

O choro por trás das cortinas

A vida do pai de Sérgio Bittencourt merece ser exaltada em livro. Mesmo que ele não fosse uma figura pública, o enredo de seus dias sempre foi interessante. Fato presente na biografia, por exemplo, é a sua origem. Jacob era filho de uma cafetina polonesa que morava na Lapa, zona boêmia carioca, no qual o músico teria uma vergonha absoluta e foi motivo de muitos de seus traumas.

Outro ponto mencionado pelo autor seria a personalidade no mínimo delicada do artista. Nada escapa do olhar de Gonçalves Junior, nem mesmo os boatos de que quando escrivão, Jacob do Bandolim usava da própria casa como ponto de tortura de criminosos executadas por policiais. Nada confirmado ! O que se sabe é que o carioca andava armado, e usava do utensílio para impor autoridade.

A própria relação com Sérgio Bittencourt, jornalista e compositor, era uma grande preocupação do pai. Além de ser hemofílico, o autor de “Naquela Mesa” era um grande opositor do Regime Militar, e vivia em completo desacordo com Jacob, daqueles grandes amores turbulentos e sofridos. 

Mesmo com tanta história de bastidor, a categórica pesquisa do biógrafo sempre destaca o músico que revolucionou o choro e a história do cancioneiro popular brasileiro. Querendo ou não, a vida de Jacob do Bandolim se confunde com a deste país e de algumas figuras ilustres, como a da centenária e eterna amiga Elizeth Cardoso e de seu ídolo Pixinguinha.

E hoje ninguém mais fala no seu bandolim?

Depois de três infartos causados pelo vício no cigarro e por um temperamento fortíssimo, Jacob se despedia da vida no dia 13 de Agosto de 1969, mas, ao contrário do que o jornalista Sérgio Bittencourt retrata na canção, seu bandolim continua a ser lembrado e saudado por colegas e pelo grande público.

Quem gosta de música vai lembrar da gravação do carioca em canções como “Brasileirinho”, “Ai, que saudade da Amélia” ou do seu disco “Vibrações”, marco do Choro e do Samba-Canção. Jacob era sempre protagonista, mesmo que por vezes escondido por trás de ilustríssimos parceiros.

As biografias são sempre bem vindas, e “Jacob do Bandolim – Um coração que chora” é destas que muito agrega no conhecimento musical brasileiro. Rememora um dos reinventores de estilos, uma vida contraditória, de excessos, inclusive de arte. O que é lindo!

Jacob Pick Bittencourt, agregou o Bandolim ao nome, e deve ser lembrado assim, como um homem de amores, dores, tristezas, raivas e sensibilidades. Um oficial da música, e que muito se orgulhava de viver por meio dela.