Dezembro é um mês de muitos sentimentos. Tem pessoas que amam a data com todo o fervor, outras se debruçam em expectativas para o ano que irá chegar. Há também quem sinta certa melancolia, como eu, observando o período como um momento de rememorar saudades do que não posso ter mais.
Independente de tais sensações, em menos de uma semana para o Natal, é necessário falar que as canções natalinas vão além de “jingles chicletes” que o comércio faz questão de tocar para atrair clientes. Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes ídolos lançam trabalhos exclusivamente para tal época do ano e sempre com muito sucesso de vendagem.
Mesmo não tendo essa mesma cultura, a Música Brasileira sempre ganha letras tristes e sensíveis em Dezembro. O compositor Oswaldo Montenegro fez rememorar essa a ideia com seu novo single “Sonho de Natal”, que ganhou até clipe simpático nas plataformas digitais.
Momento de regeneração oportuno para novos começos, o grupo Roupa Nova, agora sem o vocalista Paulinho (falecido há um ano), volta a ativa com o EP “Noite Feliz”, segunda produção natalina dos músicos. O novo trabalho com sete faixas, inclui as inéditas “Meu Deus” e “Jesus no Coração”, além dos clássicos “Santa Claus is comin' to town” e “Away in a manger”.
Essa corrente musical repleta de batidas de sinos, muitas vezes baladas simples e fáceis de serem decoradas já impulsionaram a carreira de vários artistas e tornaram até um gênero à parte, reproduzido anualmente em um curto mas importante recorte de tempo.
Uma noite feliz é ter sucesso
Como afirmei desde o início, o Natal é uma data que une lembranças, é parte de um processo íntimo e individual. Sem qualquer dúvida, dentro do meu olhar (musical) para esse período não mencionar o álbum “25 de Dezembro” da maravilhosa Simone, seria um grande erro com a história da nossa música e até da minha também.
O disco, que agora celebra o auge da sua vida adulta aos 26 anos, é um marco quando mencionamos a relação natalina com a indústria fonográfica brasileira. A produção de Max Pierre e Moogie Canazio com base na ideia de Marcos Maynard, até hoje é lembrado, mesmo que dividindo opiniões e permeia gerações.
Com repertório garimpado que inclui “Sino de Belém / Jingle bells”, “Natal das crianças”, “O velhinho”, “Noite feliz” e “Jesus Cristo”, clássico dos especiais do Rei Roberto Carlos. O 25 de Dezembro, data de nascimento da cantora , modificou também a carreira de Simone. Lhe estigmatizou um pouco, mas o uniu a um olhar afetuoso do brasileiro. Mesmo esse álbum sendo um ponto crucial da música natalina no país, não é possível afirmar que foi o primeiro dentro desse resgate.
Nem todo mundo é filho de Papai Noel
Na década de 1930, um jovem boa praça vindo da Bahia, fez do Natal algo realmente brasileiro, sem a batida americanizada de outras vozes. Assis Valente, grande compositor, se dedicou às marchas alimentando os dramas de uma nação plural, mestíça e desigual.
No seu clássico “Boas Festas”, o eu lírico questiona a vida dizendo que pensava que todo mundo era filho de papai noel, quando a realidade que o “bom velhinho” parece ser tão pouco democrático assim como a sociedade que muito domina capitais, quanto outros não possuem um prato de comida. Noventa anos depois, a canção continua atual, infelizmente.
Outros artistas fizeram trabalhos exclusivos para o natal. Nomes que incluem Agnaldo Rayol, Bibi Ferreira, Chitãozinho e Xororó e até a Xuxa. Muitos cantaram hits, celebraram a melancolia gostas de dezembro e reinventaram o óbvio. Mesmo distante dos grandes concertos e recitais natalinos, o Brasil sabe cultuar a data também com música.
Talvez o nosso Papai Noel não tenha gorro vermelho, trenó de renas, saco recheado de brinquedos e roupa de veludo, mas é um velhinho simpático, meio malandro e que com certeza deve saber sambar e jogar uma pelada aos domingos. Com certa antecedência desejo: feliz natal!