Com show “Ao Vivo e muito Vivo”, Rodger Rogério segue em plena atividade e esbanjando entusiasmo

O artista e também professor universitário comemora aniversário na próxima quinta-feira. Pensando em projetos novos, ele deseja lançar composições inéditas do grande público

O que é ser jovem ? Inúmeras são as respostas para essa pergunta. A juventude é questão de olhar, admirar a vida. É um estilo de caminhar pelas incertezas do mundo sem perder o frescor do sorriso. Muito provavelmente seja por isso que a música de qualidade nunca envelhece, vive sempre a ser regada pelo amor, sonho e poesia.

Talvez esse seja o motivo de celebrarmos no próximo dia 28 de Janeiro a vida do "velho menino” Rodger Rogério, um dos grandes mestres do cancioneiro popular cearense. O cantor faz aniversário e segue em plena atividade, com show de título original e super autêntico.

 “Ao Vivo e Muito Vivo” foi realizado na produtora Varanda Criativa no fim do ano passado. Com a direção de Dawlton Moura, a apresentação teve apoio da fundamental Lei Aldir Blanc por meio do Edital da Secultfor e segue gravado nas redes sociais do artista. De clássicos até inéditas, Rodger Rogério mostrou que o tempo não passa para os grandes. 

“Para acabar o suspense é 77 anos”, essa foi a frase que encerrou aos risos um descontraído bate-papo que tive ao telefone com esse ilustríssimo fortalezense, e que muito honra sua terra. Conversar com Rodger é sempre uma alegria enorme, seja pela simplicidade, carisma ou, ainda, jovialidade. 

Esse ano a comemoração vai ser redobrada. Em maio de 2020 o compositor foi internado no Hospital São José após contrair a tão temida Covid-19. Que susto para seus familiares, amigos e admiradores! Felizmente, o artista, com toda a sua fortaleza, venceu a luta contra a doença e deixou a unidade de saúde sob aplausos dos enfermeiros, que lhe acompanharam nesse momento difícil.

Com o entusiasmo de sempre, Roger Rogério confidenciou que, no futuro, pretende tirar do baú músicas inéditas, de sua autoria, com parceiros. “O Clodo morou um tempo com a gente, e nesses meses fazíamos muitas músicas, tem umas agora que eu até nem lembro, e quero ver se faço esse resgate”.

Mesmo sem expectativa para lançamento das composições, almejar novos trabalhos mostra que o cantor é sempre futuro e, mais ainda, que existe muito a ser dito sobre a vida dessa figura marcante do Ceará.

Física e  música, do racional para a emoção

Nas décadas de 1960 e 1970 uma juventude engajada, repleta de sonhos e convicções invadiu o Brasil que passava por seus anos mais duros da Ditadura Militar (1964-1985). Na sua maioria estudantes universitários, aqueles jovens encontraram na arte uma forma de driblar a censura e mostrarem seu grito de liberdade.

Em Minas Gerais até hoje é exaltado o grupo “Clube da Esquina”, por exemplo. Na Bahia, surgiram a “Tropicália” e depois “Os Novos Baianos”, e aqui nas terras alencarinas não poderia ser diferente. 

Dentro do “Movimento Musical Estudantil”, da Universidade Federal do Ceará, nasceram artistas que viriam a ser chamados de “Pessoal do Ceará”. Nomes como Ednardo e Belchior seguem vivos na memória popular, mas outros também devem ser louvados e perpetuados.

O adolescente Rodger Rogério é um desses. Aluno do curso de Física da UFC, morava perto da Av. João Pessoa no bairro Damas e frequentava os festivais acadêmicos onde apresentava suas músicas.

Foi na universidade que ele conheceu ninguém menos que Fausto Nilo e Ricardo Bezerra, ambos do diretório do curso de arquitetura, Petrúcio Maia estudante de Ciências Sociais e até o boêmio Augusto Pontes. Mas o compositor não ia sozinho, levava sua namorada e vizinha Elizeth, ou também chamada de Teti, considerada matriarca da música cearense.

Logo aqueles jovens conquistaram espaço nas televisões locais, como a então recente TV Ceará e nos programas de rádio. O que encaminhou, posteriormente, para uma vida artística “profissional”, mesmo sem esquecer a formação acadêmica. 

“Eu sempre quis que minha música fosse eterna e atemporal e hoje fico muito feliz quando vejo que de alguma forma eu consegui”, afirmou Rodger por telefone.

Alguns concluíram o ensino superior, outros não, mas o sucesso foi certeiro na vida daqueles sonhadores. Mesmo traçando carreira no eixo Rio-São Paulo, Rodger Rogério continuou estudando física, fez mestrado e virou professor. Segundo ele, apesar de diferentes (uma racional e outra emocional) as duas seguem como paixões na vida do artista.

Durante longos anos de carreira, as parcerias foram muitas. “Retrato Marrom”, por exemplo, é fruto de uma amizade duradoura com Fausto Nilo. A letra foi escrita pelo arquiteto com base em elementos da boêmia entristecida devido ao governo de repressão. Após uma noite ouvindo Astor Piazzolla, o físico deu a melodia de tango para a canção.

Outra parceria com Fausto é a dolente “Barco de Cristal”, essa também de autoria do piauiense Clodo, feita sob uma noite chuvosa na capital paulista. Muitas são as pérolas no qual Rodger participa como criador. Dentre elas podemos citar “Ponta do Lápis”, “Baião da Baia”, “Chão Sagrado”, “Falando da Vida” dentre outras músicas que marcam sua identidade do estado.

Da UFC para as telonas

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, parte dos artistas cearenses voltaram para sua terra. Rodger seguiu como professor e atuou por muitos anos na Universidade Federal do Ceará, mas não só lecionou como teve sua trajetória marcada nas paredes da instituição como um dos fundadores da Rádio Universitária

Quando se aproximava dos seus “60” anos, a chamada década da aposentadoria, o compositor mudou os rumos da vida, resolveu cursar teatro e, mais tarde, também se descobriu cantor, passando a se apresentar na companhia do seu afinado violão.

Rodger estreou filmes cearenses e brilhou até nas telonas internacionais, como nos recentes filmes premiados Bacurau e Pacarrete. E ele não para ! Lançou também há alguns anos o EP “Velho Menino”. Uma das faixas do álbum virou até Clipe ( a bossa “As Deusas d’Iracema”, parceria dele com Dalwton Moura).

Para 2021, Rodger iguala seus desejos aos de muitos brasileiros: a Vacina para todos. Somente depois disso é que o artista se vê totalmente feliz, se apresentando para seus admiradores, amigos e colegas, além de voltar a frequentar a boêmia desta cidade que ama.

Encerrar esse texto é difícil, diante de uma biografia tão rica e empolgante quanto a do “Neguim”, apelido carinhoso que recebeu do meio artístico. O que posso desejar é que Rodger siga brilhando e se reinventando com o tempo, seja futuro sem esquecer das memórias. Lance sempre ao tempo as delícias de esperar que ele nunca passe. Parabéns, querido mestre!