O que faz o queijo do Vale do Jaguaribe ser cientificamente comprovado como único no mundo? Entenda

Minas Gerais é o primeiro estado que vem à cabeça quando o assunto é queijo, mas a produção do Vale do Jaguaribe, no Ceará, é considerada única - o que é cientificamente provado, conforme a engenheira de alimentos e professora na Universidade Federal de Campina Grande Mônica Correia Gonçalves.

Em entrevista à coluna após palestra na 27ª edição do PEC Nordeste, Mônica explicou que a região possui um “terroir” - conceito francês que trata da influência de elementos como a cultura e o clima, por exemplo, na gastronomia - único. “A latitude, o clima, a temperatura, o rebanho, a forma de fazer, tudo isso influencia o queijo do Jaguaribe e foi provado cientificamente que só tem lá”, pontua.

“Então, mesmo que eu queira produzir um queijo como se produz no Vale do Jaguaribe, se eu pegar o leite de lá e levar para outra região, eu não vou conseguir fazer o mesmo queijo, porque o ambiente vai influenciar nas características, nas propriedades e nos atributos sensoriais daquele queijo”, detalha a professora.

Questionada se alguma outra região do Ceará tem despontado na produção de queijo e pode se destacar nos próximos anos, Mônica reforça o diferencial do Vale do Jaguaribe. “Hoje, a região é, sim, a que mais se destaca. Esse diferencial é comprovado”, endossa.

Gargalos

Apesar dos grandes atributos dos queijos cearenses, em especial o do Vale do Jaguaribe, Mônica acredita que a falta de organização e de “harmonia entre os sistemas” são gargalos nos quais o desenvolvimento da atividade acaba esbarrando. “Falta valorização, falta organização dos produtores e poderia ter mais apoio do poder público. A legislação até existe, há a lei do queijo artesanal no Estado do Ceará. Não foi regulamentada ainda, mas existe”.

“O que falta é harmonização entre esses sistemas; serviço de inspeção municipal, estadual e federal, eles não conversam entre si. E isso dificulta mais ainda a vida do produtor, que já não é fácil. Então, o que falta é de fato integração desses sistemas para simplificar, afirma Mônica.

A fiscalização e a certificação são extremamente necessárias por questões de segurança dos alimentos, mas é importante que tudo isso aconteça de forma menos complicada e para isso o próprio sistema tem que se organizar"
Mônica Correia Gonçalves
Engenheira de alimentos e professora na UFCG

Essa organização e harmonização entre os sistemas poderia permitir ao Ceará, por exemplo, explorar melhor essa seara, agregando valor ao produto, assim como fazem outros estados. “O consumidor hoje ele não quer só comprar o queijo, ele paga pela história do queijo. Então ele quer saber como foi feito, onde foi a ordenha, qual é a vaquinha, quem é que produz, quais as condições de produção, então ele está interessado na história do queijo e não só no produto final”, diz.

Exemplo de Minas Gerais

Mônica destaca o exemplo de Minas Gerais, que consegue agregar valor ao queijo produzido por meio de estratégias como a obtenção de certificações e o com uso do turismo gastronômico como aliado. “Lá eles tem queijarias com estruturas físicas muito mais simples do que as nossas e conseguem gerar renda numa propriedade bem pequena. Eles exploram a atividade, recebem turistas, vendem o queijo, participam de concursos e a cada selinho que eles vão ganhando agregam valor ao queijo”.

Em abril deste ano, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) concedeu o primeiro Selo Arte, certificação que atesta a fiscalização de produtos de origem animal produzidos artesanalmente e permite a comercialização em todo o País a uma queijaria cearense: a Dona Vita, de Limoeiro do Norte.

Também em abril, em entrevista ao Diário do Nordeste, o superintendente do Mapa no Ceará, Augusto Júnior, afirmou que os queijos artesanais produzidos no Estado podem conquistar grandes mercados se passarem pelo processo de certificação.