Oito projetos no Ceará relacionados a rodovias são considerados pela indústria como de suma importância para a ampliação da competitividade do setor.
Os projetos incluem duplicações, pavimentações e integrações, garantindo mais qualidade ao transporte rodoviário, menos perdas nas cargas e redução no custo do frete. As obras foram pontuadas no Panorama da Infraestrutura apresentado na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) na semana passada.
Dentro do Panorama Industrial, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), foram pontuadas três obras que se ligam mais diretamente ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), ponto de entrada e escoamento de cargas no Ceará e no Nordeste.
As obras em questão são a duplicação da BR-222 do km 12 ao km 35 para "facilitar o acesso" ao Cipp e "melhorias no projeto geométrico e adequações na CE-155, do quilômetro zero ao Porto do Pecém", bem como o lançamento da rodovia Arco Metropolitano do Estado. Os três são há anos apontados pela indústria como gargalos que atrasam o desenvolvimento econômico do Ceará.
Em julho deste ano, foi anunciada a liberação de R$ 3,9 milhões para construção de alças de acesso entre a CE-085 e a CE-155. Também no início do mês passado, foi inaugurada a duplicação da CE-155 no trecho de 21 km que faz ligação do Porto com a BR-222, com investimento de R$ 84,1 milhões.
Quanto ao Arco Metropolitano, o estudo propõe que seja dada "celeridade para o lançamento", ligando o município de Pacajus ao Cipp. Esperada há mais de uma década, a rodovia foi pensada como uma nova rota de escoamento de produção para o Porto do Pecém, retirando o tráfego de cargas pesadas da Região Metropolitana de Fortaleza.
A previsão de inauguração do projeto era 2026, contando com três pedágios, 40 mil veículos passando por dia e investimento de R$ 1,26 bilhão.
Além desses pontos também foram apontadas a duplicação da BR-116 no trecho entre Pacajus e Jaguaribe e a duplicação da BR-222 entre Croatá e Sobral "para atender à demanda crescente de cargas e transportes".
Veja os projetos apontados pelo estudo:
- BR-116/CE (Pacajus-Jaguaribe): Viabilizar a duplicação da BR-116 no trecho entre Pacajus à Jaguaribe no CE;
- BR-222/CE (Acesso ao CIPP): Garantir a duplicação da BR-222 do km 12 ao km 35 para facilitar o acesso ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP);
- CE-155 (Concessão Federal): Providenciar melhorias no projeto geométrico e adequações na CE-155, do quilômetro zero ao Porto de Pecém;
- BR-222/CE (Croatá-Sobral): Realizar a duplicação da BR-222 no trecho entre Croatá e Sobral para atender à demanda crescente de cargas e transportes;
- Integração das BRs no CE: Complementar a Pavimentação das BRs dos tipos transversais, diagonais e de ligação, visando integrá-las às BRs longitudinais e radiais existentes no estado do CE (BR–122; BR-226; BR-230; BR-402; BR-403; BR-404; e BR-437);
- Anel Viário de Fortaleza (Concessão Federal): Retomar as obras no Anel Viário de Fortaleza (CE);
- Rodovia Arco Metropolitano (CE): Dar celeridade para lançamento da rodovia Arco Metropolitano do Estado, ligando o município de Pacajus ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).
A ordem de serviço para a conclusão das obras do Anel Viário foi assinada há duas semanas. O projeto vai receber um investimento de R$ 97 milhões e será executado por meio de um convênio entre o Ministério das Cidades e o Governo do Ceará, por meio da Superintendência de Obras Públicas (SOP).
Os serviços que serão feitos para conclusão do Anel Viário incluem restauração das pistas principais da CE-010, pavimentação de 21,1 km de acostamento, pavimentação de faixa de segurança, ciclovias, alças, acessos e implementação de nove retornos ao longo de todo o trecho (incluindo drenagens e sinalização).
Ceará tem 70% da malha rodoviária federal em condição regular, ruim ou péssima
O especialista em Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria, Ramon Cunha, pontua que um sistema ineficiente de transportes produz impactos diretos sobre os custos de produção das empresas, além da sua relação com as taxas de acidentes e os níveis de emissões. "Consequentemente, isso afeta a produtividade e competitividade das regiões brasileiras".
Ele destaca que o Ceará tem cerca de 70% da malha rodoviária federal classificada como regular, ruim ou péssima. "Esse percentual é superior à média nacional (aproximadamente 60%), indicando uma maior precariedade das condições de infraestrutura rodoviária no estado em relação ao restante do país".
Recursos destinados para malha rodoviária federal
Procurado para um posicionamento sobre o que está sendo feito para melhorias nas rodovias, o Ministério dos Transportes informou que o "direcionou mais de R$ 311 milhões para manutenção e restauração de toda a malha rodoviária federal" do Ceará este ano. "Quanto às demais rodovias sob gestão federal, não há previsão, por ora, de intervenções".
Ainda de acordo com o Ministério dos Transportes:
- A duplicação da BR-116/CE está com obras contratadas e atualmente a fase é de elaboração dos projetos. O trecho de Chorozinho a Boqueirão, dividido em dois lotes, deverá ser licitado até o fim do ano. Já o segmento de Boqueirão a Jaguaribe teve seu projeto de adequação contratado em junho de 2024 e encontra-se em elaboração;
- As obras de duplicação da BR-222 estão em execução e devem ser concluídas até o fim do ano;
- O projeto de adequação da BR-437, de Tabuleiro do Norte a Mossoró (RN), foi concluído e a obra poderá ser licitada ainda este ano.
Perspectivas em torno da Transnordestina
Outro grande projeto destacado no estudo da CNI, a Ferrovia Transnordestina também é considerada ponto essencial para a ampliação da competitividade da indústria no Nordeste. Cunha ressalta que a conclusão das obras, estabelecendo a conexão entre Eliseu Martins (PI) e o Pecém, dará ao Ceará "grandes oportunidades para integrar suas redes de transporte e, assim, elevar a participação nos mercados domésticos e internacionais".
Hidrogênio Verde
Questionado sobre o possível impacto dos gargalos em infraestrutura de rodovias no Ceará sobre o desenvolvimento do hidrogênio verde, o especialista aponta que, sem dúvidas, a oferta adequada de infraestrutura tem papel fundamental nesse processo. "A implementação do hub de hidrogênio verde previsto para o Estado tem como localização definida o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, de modo que uma série de melhorias de infraestrutura deve ser assegurada para o pleno avanço do projeto", diz.
Para além das melhorias rodoviárias, Ramon Cunha destaca a necessidade de modernização de infraestrutura em outras frentes para o avanço do projeto de H2V.
"Dentre os vários pontos necessários para modernização da infraestrutura estão a construção de píer no Porto de Pecém para atender a demanda prevista do H2V (Hidrogênio Verde) - incluindo seus derivados como a Amônia -; a ampliação e o devido compartilhamento da rede dutoviária existente; e a expansão da rede de transmissão de energia de modo a viabilizar todo o fluxo de potência a ser gerado e requerido com a produção de hidrogênio verde no estado", finaliza especialista em Infraestrutura da CNI.
A reportagem procurou a Fiec para comentar o estudo, mas não houve retorno até a publicação deste texto.