Como um bom brasileiro, considero um tanto quanto difícil falar sobre um profissional sem dissociar da figura pessoal. No caso de Rogério Ceni, no entanto, tal conexão é complicada, tendo em vista que uma dessas vertentes, a associada ao trabalho, aparece muito mais que a segunda.
Desde que chegou ao Fortaleza, em 2017, Ceni não aparece nas notícias pela vida social na cidade. Não se sabe muito o que o treinador gosta de fazer. Não anda em shoppings, restaurantes conhecidos ou mesmo é visto na praia. Com uma pequena exceção da prática de tênis, a qual já foi clicado algumas vezes, só se vê o ex-goleiro no gramado do CT Ribamar Bezerra e na área técnica da Arena Castelão. Entrevistas somente após os jogos. Contato com ele é praticamente visual, sempre na labuta diária dos treinamentos.
Como um bom brasileiro, o "estilo" Ceni de viver causou certo estranhamento no início. É que o brasileiro, ainda mais o cearense, gosta de sair um pouco da formalidade, quebrar os protocolos e estabelecer um contato mais na base da "camaradagem". Não é bem o que ocorreu com o treinador. Mas isso não foi demérito nenhum, basta conferir a história. A verdade é que aprendemos a entender o modo de ser de Rogério Ceni.
As conquistas, que vieram na base de muito trabalho e com muita justiça, foram injetando doses de empatia à figura que não parecia tão amistosa. Duas temporadas depois, o que sobra, na verdade, é muita admiração pelo profissionalismo exacerbado de Ceni.
Não é preciso ser amigo, ser simpático, basta ser correto, justo e competente. É isso que o futebol cearense precisava. Um modo de ser que contagia e eleva o nível profissional de todos.
Quando Ceni não aceitou a proposta do Athletico/PR para ficar no Fortaleza, na verdade, não houve surpresa ao se traçar esse perfil profissional construído nestes anos de futebol cearense. Já é bem notório que os desafios movem esta figura muito mais que dinheiro. Basta também analisar a trajetória como jogador de futebol. Do primeiro ao último minuto de carreira dentro do São Paulo Futebol Clube.
Então, que mais anos se completem na vida deste grande treinador, que pela forma correta com que conduz a profissão, também deve ser grande pessoa.