E assim disse o “humorista” Danilo Gentili, sobre Bebê Rena, série disponível na Netflix. Me questiono sobre o motivo de começar este texto com uma frase dita logo por ele, mas ela ornamenta muito bem a gordofobia que é servida à mesa da família brasileira todos os dias.
Sim, você já viu tudo sobre essa série, que ela é sobre uma stalker (Martha Scott) mas também não é, que trata de outros problemas tão graves quanto… mas aqui ainda cabe um pouco da minha percepção a respeito do fervor que essa série tem causado.
No livro “O Peso e a Mídia”, da Agnes Arruda, ela discorre sobre todos os arquétipos midiáticos que englobam pessoas gordas: a gulosa e triste, a que era gorda e ficou magra, a nojenta e a deprimida. Martha Scott dá o check em quase todos esses estereótipos. Não só ela é triste, nojenta e deprimida, como ela também é uma stalker mentirosa e perigosa, segundo a série, supostamente baseada em fatos reais.
Martha, que além de tudo, também é mais velha e “feia” para os parâmetros estético-sociais, passa os 7 episódios atrás de Donny Dunn, que com o desenrolar da trama vira um macho indefeso e frágil, que precisa ser salvo a qualquer custo. A cada 30 minutos você se prende em um enredo envolvente, sim, mas que trata dos pesadelos mais aterrorizantes do homem branco.
O homem é a vítima nessa história. Sendo assim, por que se envolveu com ela? Por que ele não disse “não” quando percebeu que Martha estava passando dos seus limites?
O que mais dói em mim, uma mulher também gorda, é me questionar: todas as vezes que engajei num relacionamento, ainda que platônico, eu virei uma stalker? Fazendo perguntas e procurando um sinal de correspondência… será se sou uma stalker?
A jornalista Jéssica Balbino se fez os mesmos questionamentos: “será se a gordofobia me tornou uma stalker?”. Repenso todos os relacionamentos que tentei ter, todas as amizades que tentei fazer, todas as vezes que me vi empolgada com a possibilidade de receber alguém novo em minha vida.
A partir de Bebê Rena, será se tudo isso que sou vira uma red flag? Não deixo de pensar que a gordofobia (além da homofobia e transfobia da série), me torna uma stalker em potencial. Mais uma personagem, ainda que com todas as suas problemáticas, define quem eu posso ser para as pessoas que me conhecem apenas por meio do meu corpo.
Martha, se fosse magra, linda e jovem, seria tão odiada pelo público? Uma mulher linda, bem resolvida e dentro de todas as exigências do padrão estético ocidental, receberia uma pouco mais de empatia?
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora