No início de janeiro, pairava sobre a geografia do semiárido cearense a ameaça de um ano de baixa pluviometria, quase próxima de mais uma seca. A própria Funceme antecipava uma previsão sombria – 40% de chance de chuva abaixo da média histórica, 40% de chuva na média e somente 30% acima da média. A previsão da Funceme estava em linha com a dos principais institutos mundiais de monitoramento do clima.
Mas a natureza driblou a ciência e, neste mês de fevereiro, houve uma benfazeja mudança climática: as chuvas vieram, embora mal distribuídas espacialmente, mas foram suficientes para provocar uma decisão fundamental do Governo Federal: a da retomada do bombeamento das águas do São Francisco para o lado cearense do Canal Norte.
Consequência: pequenos e grandes empresários do agronegócio, liderados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), que em janeiro exibiam um semblante de crescente tristeza e profunda preocupação, mostram-se hoje mais animados com a perspectiva de uma boa safra de grãos e de hortifrutis. Mais animados e mais entusiasmados.
Ontem, 20 empresários do agro reuniram-se com o presidente da Faec, Amílcar Silveira, de quem ouviram uma excelente notícia: neste ano, a Pecnordeste – maior feira nordestina da agropecuária regional – que se realizará no próximo mês de junho – baterá mesmo todos os recordes de público, de estandes de expositores e de palestras técnico-científicas. Silveira revelou, sob aplausos, que 99% dos espaços da Pecnordeste já foram comercializados.
“Pela primeira vez, ocuparemos os pavilhões Leste e Oeste do Centro de Eventos”, disse o presidente da Faec.
Este é só um lado bom da volta das chuvas, mas há outro melhor ainda: Luiz Girão, fundador da Betânia (que hoje é a Alvoar Lácteos) e maior produtor de leite bovino do estado do Ceará, informa que as precipitações pluviais deste fevereiro deram uma grande contribuição à pecuária cearense, pois recuperaram o pasto nativo, mantiveram intactos os volumosos ensilados nas fazendas de produção leiteira do Apodi e do Sertão Central e abriram a perspectiva para novas safras de milho, sorgo, palma e soja – tudo de que a bovinocultura e a avicultura mais gostam.
As chuvas que caem aqui também caem no Maranhão, onde o agricultor e carcinicultor cearense Gentil Linhares – dono do Grupo Bomar – produz soja. “Lá as coisas vão bem”, ele diz, adiantando que no Piauí, onde cultiva camarão em escala no Litoral, “as chuvas caem com boa intensidade”.
Presente à reunião de ontem, Rita Granjeiro, que produz coco e feijão verdes em sua Fazenda Granjeiro, em Paraipaba, confirma “o novo clima na agropecuária por causa das boas chuvas”, e adianta que a safra do feijão – que ela planta e colhe durante todo o ano de pluviometria normal – tem tudo para ser boa de novo.
Por sua vez, Marden Vasconcelos, sócio e diretor da Tijuca Alimentos, está feliz também pela mudança do clima: sua empresa costuma adquirir toda a produção de soja e milho dos agricultores cearenses.
E Raimundo Delfino, cuja Fazenda Nova Agro, em Limoeiro do Norte, produz e colhe milho, soja e algodão na Chapada do Apodi, é outro que agradece a Deus pela reversão da expectativa. “Antes, tínhamos a ameaça de uma prolongada estiagem; agora, a natureza divina nos brinda com boas chuvas”, afirma ele.
Mas há um detalhe que preocupa: as chuvas que desabam sobre o Ceará – trazendo com elas relâmpagos e trovões – não foram, ainda, suficientes para recarregar os grandes açudes Orós, Castanhão e Banabuiú. Porém, a boa notícia é de que as águas do rio São Francisco estão de novo correndo em direção ao Castanhão. As chuvas estão fazendo descer com enchente os rios e riachos por cujos leitos deslizam também as águas do Velho Chico.
Resumindo: os céus estão colaborando para um 2024 de boa safra agrícola e de boa performance da pecuária. Amém!