A água do Açude Pacajus e a desconfiança do agro

Líderes da agropecuária cearense pediram ao Palácio da Abolição informações sobre a transferência de águas do Pacajus para o Pacoti. Como não houve resposta, imaginaram que não havia essa transferência. Mas a SRH esclareceu.

Desde novembro de 2023, a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), organismo vinculado à Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) do Governo do Ceará vem bombeando água do açude Pacajus para o açude Pacoti, o maior dos reservatórios que abastecem de água a população e a atividade econômica de Fortaleza e das cidades de sua Região Metropolitana. 

Esta é uma informação da mais alta relevância para quem lida com o uso da água, como é o caso dos empresários da agropecuária, cuja atividade depende 100% da oferta dela.

Não faz sentido, pois, que autoridades com gabinete de trabalho no Palácio da Abolição tenham negado, nos últimos quatro meses, informações solicitadas por líderes do agro cearense sobre, exatamente, a transferência das águas do Pacajus para o Pacoti. Para eles, até segunda-feira, 8, essa transferência não existia.

A providência da Cogerh, bombeando para o Pacoti o excesso da água acumulada no Pacajus, está correta, é oportuna e revela seu zelo e sua total compromisso com o bom gerenciamento dos recursos hídricos da Região Metropolitana de Fortaleza. 

Mas, ao mesmo tempo, é estranha – e mais parece uma atitude pueril – a posição da assessoria direta do governador do estado, que não respondeu aos pedidos de empresários do agro. Ora, o silêncio da autoridade governamental levou 25 agropecuaristas a transmitir, segunda-feira, a esta coluna a notícia de que as águas do Pacajus – que começou a verter na manhã do mesmo dia – estavam indo para o mar, num imperdoável desperdício e numa de completa desinformação.

Felizmente, rápido no gatilho, o secretário Executivo da SRH, engenheiro Ramon Rodrigues, esclareceu o que até então seguia na obscuridade. E o que parecia um limão tornou-se uma boa limonada. 

Ficou, porém, no empresariado da agricultura e da pecuária a sensação de que alguns setores do governo estadual preferem manter desinformada a liderança da economia primária cearense, o que não é bom, pois o momento – que é benfazejo por causa das intensas chuvas que banham o sertão do Ceará – exige a união de todos. 

O agro cearense vem crescendo em ritmo acelerado, de que são exemplos a cotonicultura, a fruticultura, a carcinicultura e a avicultura, todos empregadores intensivos de mão de obra. 

Bem-informado sobre esse crescimento e entendendo que foi eleito para governar para todos, o governador Elmano de Freitas tem, pessoalmente, prestigiado os eventos do agro, o maior dos quais, o Pecnordeste, vem aí em sua versão 2024, ocupando todos os espaços do gigantesco Centro de Eventos do Ceará e batendo todos os recordes de público, de expositores e de palestras. 

Será ele, o governador, que presidirá o ato de abertura da Pecnordeste, no dia 6 de junho.

Em tempo: há canais de permanente comunicação da liderança do agro com áreas específicas do governo estadual. Um desses canais é a Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), cujo titular, Salmito Filho, dialoga diretamente com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), colhendo dele as demandas do setor e encaminhando-as ao governador. 

Resumindo: inobstante as dificuldades próprias que, ao longo do tempo, marcam o relacionamento do governo com as entidades empresariais, o clima entre as partes é bom e saudável. E deve seguir assim, se depender da vontade da liderança dos agropecuaristas.

A coluna tentou entrar em contato com a assessoria do governador Elmano de Freitas, e mesmo deixando uma mensagem pedindo um posicionamento da Casa Civil sobre a questão, não obteve resposta até o momento da edição deste texto.