O bolsopetismo é fenômeno parcial e descontínuo. Em geral e com estardalhaço, petistas e bolsonaristas brigam como cão e gato; porém, na surdina, em temas específicos e momentos oportunos, estreitam os interesses em abraço camarada.
Enquanto as massas vestidas de vermelho vão às ruas clamando "Fora Bolsonaro", dirigentes petistas atuam discretamente em favor da inviabilização do impeachment. Alguns não tão discretamente: o governador petista do Piauí, Wellington Dias, por exemplo, disse –em entrevista à revista Veja de julho– que não se deve banalizar o impeachment e que, no caso de Bolsonaro, ainda não há comprovação que justifique sua abertura.
Intelectuais do entorno lulista também já desdenham dessa bandeira e refugam a possibilidade de cassação, pelo TSE, da chapa Bolsonaro-Mourão.
O interesse é manter o atual presidente no cargo até outubro de 2022, evitando surpresas no pleito polarizado em que Lula é favorito.
Do ponto de vista pragmático-eleitoral, lulistas estão certos em abraçar bolsonaristas na momentânea comunhão de interesses. Do ponto de vista da democracia, da ética e da legalidade, porém, tendo o presidente da República cometido seguidos e gravíssimos crimes de responsabilidade, trata-se de uma indecência.
A aliança mais consistente entre lulopetismo e bolsonarismo dá-se, porém, na defesa da impunidade, pelo óbvio motivo de que essa pauta, essência do bolsopetismo, tornou-se, para ambos, questão de sobrevivência.
Juntos destruíram a Operação Lava Jato; juntos reconduziram o condescendente Aras à PGR e juntos estão conseguindo transformar, no Congresso Nacional, a "lei de improbidade administrativa" em "lei da impunidade administrativa".
Na Câmara, o projeto de deformação da lei, relatado pelo petista Carlos Zarattini, foi aprovado por ampla maioria. No Senado, foi aprovado com apoio do centrão, de Flávio Bolsonaro e do PT. Voltará à Câmara por mera formalidade. Em breve, o bolsopetismo logrará mais uma vitória.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora