Francisco Renê Souza Campos, de 53 anos, virou artista. Com paciência, o serralheiro dedica horas e horas por semana para transformar as peças de sua moto em vistorias esculturas. Foi assim que a oficina onde fabrica portões na cidade de Cedro se converteu também em ateliê. E hoje está repleta de cavalos gigantes, tucanos em tamanho real e até esculturas enormes de mestres da música popular como Luiz Gonzaga.
O desejo de construir coisas lhe acompanha desde criança, quando ainda morava no distrito de Assunção, zona rural da cidade, e fazia os próprios carrinhos com latas e o que mais encontrasse pela frente. Depois, já adulto, se dedicou a fabricar portões quando já vivia na sede da cidade. Tem mais de uma década que Renê reabriu a porta da imaginação para fazer arte.
“Fui me inspirando e enveredando por esse caminho. Comecei a fazer para mim, para os amigos, para minha mãe”, conta. Não demorou para que as peças passassem a fazer sucesso na cidade, expostas em feiras agropecuárias, praças e eventos culturais.
E foi assim que ser artista também virou ofício do serralheiro. Os empresários da cidade passaram a comprar as obras, feitas principalmente com correias e coroas de motos doadas pelos donos de oficina da cidade e dos arredores.
Renê foi incorporando mais materiais com as encomendas: chapas de portão, peças automobilísticas e mais uma porção de pedaços de ferro cujo destino certamente seria o lixo e o meio ambiente. “Faço arte com materiais que podiam prejudicar a natureza”, ele diz.
O valor de suas peças varia de R$ 700 a R$ 15 mil reais, a depender do tamanho, da complexidade do trabalho empregado geralmente às sextas e sábados e das peças utilizadas. “Para mim, tudo começou como hobby, eu sempre gostei de arte. Mas agora que consigo vender ficou melhor”, celebra.
A demanda não é grande o suficiente para que ele abra mão do seu trabalho na serralheria. “A gente fica jogando nos dois times, mas o pessoal vem me chamando de artista”, diz, com orgulho.
“O pessoal se deslumbra com meu trabalho, tira fotos. Todos o admiram. Fico muito envaidecido, no bom sentido. O maior pagamento do artista é que as pessoas reajam positivamente ao trabalho dele.”
A obra mais simbólica que Renê tem hoje no ateliê é um Luiz Gonzaga de três metros de altura que ele esculpiu, uma homenagem pelo gosto que herdou do pai. “Sempre fui fã dele, desde criança, por influência do meu pai. Luiz Gonzaga representou o Nordeste para o mundo”, ele diz.
A grandiosidade do Rei do Baião está eternizada pelas mãos de Renê em cerca de 500 quilos de chapas de ferro, coroas de moto, amortecedores e outras peças. “Acredito que foi uma das coisas que fiz que ficou mais legal”, finaliza o artista cedrense. Aqui, uma oportunidade de conhecer melhor seu trabalho.